Convidado-  Sérgio Marchetti*

“É comum a gente sonhar, eu sei, quando vem o entardecer” (V.de Moraes)

Desculpe-me, leitor mais otimista. E, creia, também tenho esperança de um mundo melhor. Porém, conforme já me manifestei, ultimamente tenho sonhado que os humanos estão perdendo a sua essência ou o amor ao próximo. Confesso que tenho andado muito descrente da boa-fé das pessoas. Calma, leitor! Não estou generalizando. Entretanto, somente com o intuito de exemplificar, você há de convir que, nos tempos atuais, a desonestidade deixou de ser um empecilho para a ascensão social. E, pior do que constatar essa verdade, é saber que a ignomínia, antes motivo de vergonha, de degradação social, hoje, é omitida ou até admirada como virtude, dependendo dos interesses e do caráter de quem a avalia.

“[…]o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.” (Rui Barbosa)

Desde criança abomino a mentira, a falsidade. Mas o verbo enganar tem sido o mais conjugado. Depois dele o verbo perseguir. Porém, o que mais me incomoda são os oportunistas, os “vira-folhas”, os que mentem descaradamente ao exaltarem qualidades pessoais de terceiros que, em seu âmago (se âmago eles têm), não as reconhecem. Aqueles, prezado leitor, prestam um desserviço à pátria e, pior, cometem o crime de ludibriar seu interlocutor e sua audiência.

Mas o grande pensador, Heráclito (540 a.C.-470 a.C.): dizia: “Nada é permanente, exceto a mudança”.  Então, “não há bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe”. A meu ver, estamos vivendo um processo mundial. Sendo otimista, imagino que estejamos vivenciando a metamorfose da lagarta para borboleta. E há sempre dor na evolução. Contudo, o esforço seria premiado. Neste caso a esperança se iluminaria: “[…] o mundo voltou a começar” (Guimarães Rosa). Que assim seja!

Por outro lado, na outra face da moeda, a do pessimista, podemos utilizar o pensamento de Parmênides (530 a.C.-460 a.C.), que afirma que, ao contrário das prerrogativas de Heráclito, o movimento e a transformação são apenas ilusórios. Assim, tudo é imóvel e imutável, tudo permanece.

Deixando a profundidade filosófica de lado, acredito que há coisas permanentes, embora o mundo esteja em constante movimento. E, para alcançarmos um estágio melhor, o primeiro passo deve ser dado por nós.  Não espere, leitor, pelo salvador da pátria. Não me iludo, mas sei que posso fazer a minha parte. E você, que lê esta malfadada prosa, também pode contribuir. Não haverá o mal se o bem prevalecer. Não havendo receptador, muitos ladrões perecerão. Não haverá tráfico de drogas se não houver quem as compre. Não haverá político desonesto eleito se nós não votarmos nele. Não haverá uma emissora ou um profissional espalhando inverdades se ninguém sintonizar em seu canal.

É chegada a hora de fazer a mea-culpa.  A natureza não se desequilibrou sozinha. Foi o homem quem fez isso. E tudo nos remete a Nietzsche, o filósofo alemão, que afirmou: “Deus está morto”.  Mas não o Deus que conhecemos. Na verdade, significou a morte da metafísica que é, por assim dizer, a área que estuda a natureza, a razão, o ser humano, a realidade suprassensível (que não pode ser percebida pelos sentidos), mas que, menos do que nos dias atuais, sofreu com o descaso pela vida humana, com a quebra de padrões, da ética e com o desprezo de valores maiores.

A vida, assim como a moeda, tem dois lados muito bem definidos.  A escolha é nossa.

 

*Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br