por Convidado
*por Sérgio Marchetti
Ultimamente tenho visto muitas pessoas e famílias indo para o interior e, mesmo, para o campo. Será que já podemos chamar de êxodo urbano? Creio que sim. E, confesso, meus confidentes leitores, que sinto uma pontinha de inveja (Leandro Karnal critica a inveja) daqueles que vão morar numa cidadezinha calma, aonde o tempo passa devagar e há muito mais natureza cercada de verde, terra e água. Adoro trabalhar no interior, andar pelas ruas e receber um bom-dia ou boa-tarde de quem não me conhece. Fosse para realizar um curso ou uma consultoria, o interior sempre foi minha preferência, e a FGV me proporcionou esta alegria. Viajei pelo Brasil (e fora) de norte a sul com muito conforto e conheci lugares lindos, mas o aconchego do interior é inigualável. Entre tantas, destaco uma lembrança, Ipanema, aqui em Minas, pelo panorama pitoresco. O escritório da empresa ficava no final de uma das poucas ruas daquele lugar e, com a janela aberta, além de desfrutar da mata verde, tive o privilégio de ver o gado pastando na porta do escritório. Que paz!
Dizem que a gente sai da roça, mas a roça não sai da gente. E a roça está presente nas mais lindas lembranças da minha existência… “Que saudade imensa do campo e do mato/do manso regato que corta as campinas…” Lembranças que renovo sempre, porque sou agraciado pelos anjos que me possibilitam visitar minha Pasárgada. E, em seu caminho, um outro lugar da minha vida, minha Barbacena que está sentada no alto da serra, com seu vento frio e úmido para, quem sabe um dia, me receber de volta. “…foi lá que nasci, lá quero morrer…”
Como costumamos ouvir e dizer: há um tempo de ir e há um tempo de voltar… e ando pensando na possibilidade de retornar. Porém, me bate no hipocampo, dos dois lados do cérebro, uma lembrança recorrente do conto de Aníbal Machado, Viagem aos seios de Duília, adaptado depois para o cinema, que nos faz pensar muito sobre a impossibilidade do resgate do passado. Também vale trazer à tona o pensamento de Heráclito de que “Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio. Quando imergimos, águas novas substituem aquelas que nos banharam antes”. Entendemos que a água e o homem estão em constante transformação e não serão os mesmos num segundo momento. Também penso sobre isso e me digo em pensamento que Barbacena não é a mesma. Tampouco reencontrarei a maioria das pessoas que lá deixei. Em vez de braços abertos, haverá cruzes, pois a vida é breve e, por essa razão, não há tempo para pensar e procrastinar. Somos um corpo em movimento de mudança e transformação, e isso é tudo que somos. Uma constituição física com prazo de validade, que não pode voltar a ser o que era, mas que pode voltar às origens, se assim o desejar e o acaso permitir. Contudo, sem autoengano e ilusões.
Vejo a vida como um livro; o nascimento vem no capítulo primeiro, e o retorno está no epílogo, “tudo e todos se dirigem para o mesmo fim: tudo vem do pó e tudo retorna ao pó”. (Eclesiastes 3:20)
*Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.