O médico veterinário Fred Lima, 57 anos, e a psicóloga Neusa Ávila, 51 anos, são casados há duas décadas e não tem filhos. No início deste ano foram contaminados na segunda onda da Covid-19, com diferentes desdobramentos. Ela ficou em casa, se cuidando conforme o protocolo e tudo caminhou para o resultado de cura esperado. Ele teve um quadro de piora contínua, procurou ajuda num hospital credenciado pelo SUS, onde ficou internado durante 2 meses e entubado na maior parte do tempo.
Há 3 semanas Fred teve alta hospitalar e prosseguiu sua convalescência no apartamento onde moram e tem a companhia de uma estimada cachorra.
Acontece que no sábado, 22 de maio, Fred fez aniversário de nascimento e Neusa resolveu romper a mesmice do isolamento e do cansaço mental promovendo um lanche. Fred se convenceu de que seria uma boa ideia, mesmo estando recolhido ao próprio quarto e se deslocando com o auxilio de um andador. Assim convidaram um grande amigo, o professor Lutero Almeida, de 54 anos, para um breve encontro lá pelas 17 horas. O amigo manifestou suas preocupações quanto aos riscos que todos correriam, lembrando a eles que ainda não se vacinou contra a Covid-19 e nem o influenza, mas acabou por concordar diante dos apelos de Neusa, que disse ser ele a única pessoa convidada. Ainda assim, o professor consultou seu médico de confiança que deu parecer favorável à ida com os devidos cuidados após ouvir todos os dados do caso.
Em torno da hora combinada, o professor chegou ao apartamento. Usando máscara, cumprimentou o convalescente na porta do quarto, sentou-se à sala de visitas e ouviu a campainha tocando. A porta foi aberta e entraram três vizinhos do mesmo prédio – pai, mãe e filha – todos com máscaras, que conversaram efusivamente e brincaram com a cachorra de estimação; seguiram todos para o quarto de Fred. Enquanto o professor se recuperava da surpresa, que furava o que tinha sido combinado, a campainha tocou novamente. Dessa vez chegou um sobrinho de Neusa, acompanhado pela esposa e uma filha, todos usando máscaras, e este foi direto ao quarto do convalescente enquanto a esposa tentava entabular uma conversa com o professor.
Neusa dava atenção aos convidados que chegaram enquanto o professor aguardava; pensava ele que realmente seria o único convidado conforme lhe adiantaram.
Minutos depois a aglomeração recebeu ainda uma tia de Neusa, beirando os 80 anos de idade, em companhia de uma filha com idade em torno de 50 anos, com máscaras e beijoqueiras ao cumprimentar Fred e Neusa. Por último entrou um irmão de Neusa, sem máscara, cumprimentando todos com apertos de mão, abraços e também beijoqueiro. Se dirigiu ao professor igualmente, mas o professor foi claro com o inoportuno senhor dizendo-lhe com ousada clareza “mantenha distância”. Este, sempre muito brincalhão, movimentou –se em direção aos demais convidados expressando “o ambiente está tenso”.
Já tinham se passado 35 minutos da chegada do professor quando Neusa chamou a todos para se servirem de uma torta de frango; na mesa também foi colocada uma bela torta de morangos. Todos em volta da mesa falavam ininterruptamente em cima das tortas. O professor percebeu o grande acúmulo de pessoas, sem o esperado distanciamento, e decidiu se retirar, sem degustar as tortas tão expostas.
No caminho de volta o professor Lutero passou numa confeitaria especializada e comprou uma torta de frango para degustar em casa.
Se o que foi narrado tivesse acontecido com você, que atitudes você teria?