A moradia é uma das necessidades básicas do ser humano segundo Abraham Maslow (1908-1970) e não é para menos. Se é grande a luta de quem busca conseguir ter a sua própria moradia e ficar livre do imóvel alugado dá para imaginar o que é a dor e a delícia de residir num espaço próprio, mesmo financiado, num edifício com 6, 12, 24, 50 ou 100 apartamentos de tamanho médio, variando na faixa de 40 a 80 m².
Ainda que exista toda uma legislação e um regimento próprio de cada condomínio é muito comum ouvirmos narrativas de acontecimentos de todos os tipos envolvendo pessoas que moram ou circulam nesses espaços. Na maior parte das vezes as causas dos problemas gerados, inclusive os mais bizarros, estão no desconhecimento e descumprimento dos padrões que regem os edifícios e na falta de disciplina de boa parte dos moradores para respeitar as regras do jogo. Tudo pode começar na Assembleia geral do condomínio, com baixo comparecimento dos interessados na maioria das vezes, ocasião em que são tratados os assuntos de interesse dos moradores, entre eles a eleição do síndico e subsíndico. É comum quase ninguém querer assumir o papel de síndico e é também comum que muitos moradores se posicionem contra a contratação de um síndico profissional para não aumentar ainda mais a taxa de condomínio.
Recentemente tomei conhecimento do caso de uma assembleia geral de um edifício à qual compareceram representantes de 7 dos 12 apartamentos existentes, fato que foi considerado uma grande vitória e um alento para os que acreditam na possibilidade de uma vida civilizada e respeitosa no espaço comum. Como também já passei pela experiência de ser síndico de um edifício residencial em outros tempos percebo hoje que as dificuldades ainda são muitas principalmente nesses tempos de intensa polarização da sociedade. Nesse sentido não é raro constatar que existem moradores dos edifícios, seja em apartamentos próprios, alugados de acordo com a lei do inquilinato ou mesmo para curtas temporadas, que se comportam de maneira desrespeitosa e deixando a sensação que podem fazer o que quiserem no espaço em que estão morando e nas áreas comuns. Cabe aos vizinhos se acostumarem com a balbúrdia gerada.
Podemos até fazer uma lista contendo diversos outros acontecimentos que surpreendem e incomodam ao longo do dia, da semana ou do mês. A lista poderia começar pelos moradores de um apartamento que ouvem música de qualquer gênero num alto volume. Continua no desrespeito aos limites demarcatórios das vagas para veículos nas garagens, nos animais soltos que deixam suas “marcas” nas áreas comuns desacompanhados dos donos, nos visitantes barulhentos, nas festas igualmente barulhentas até altas horas, nos prolongados churrascos espalhando cheiro e fumaça para os vizinhos, no portão da garagem e da entrada social destrancados ou simplesmente abertos demonstrando desatenção e despreocupação com a segurança… Você pode se lembrar de outras coisas que incomodam e surpreendem.
Alguns destaques especiais merecem ser citados com mais ênfase. Podemos começar pelos moradores reclamões, que se queixam de tudo, a começar pelo mau cheiro da garagem causado pelo lixo que eles mesmos deixaram lá por não observarem os dias em que a coleta é feita no local. Também não dá para esquecer os condôminos que não pagam a taxa de condomínio no dia marcado e aqueles que prolongam esse atraso por meses e ainda fazem cara feia quando são cobrados, mas provavelmente reclamarão com o síndico se faltar água, se o portão eletrônico estragado não for consertado, se houver lâmpada queimada, se o prédio estiver sujo… O último destaque pode ser dado ao grupo de WhatsApp que existe em muitos condomínios onde são feitos os comunicados do síndico sobre os assuntos de interesse comum a todos os moradores que, aliás, também postam perguntas, reclamações e temas diversos que nem sempre interessam a todos.
Diante de tudo que foi falado pode até surgir a clássica dúvida sobre se é melhor morar num apartamento ou numa casa e até mesmo se existem condições que nos permitem fazer tal escolha. Mas de qualquer maneira cada caso é um caso.