Moro em Belo Horizonte desde 1973, quando a população da cidade era de aproximadamente 1,24 milhão de habitantes. Agora, após 50 anos, chegou a 2,55 milhões, mas a área do município é a mesma: 331,3 km². Na grande BH, a área do município de Nova Lima é de 429,3 km², a de Sete Lagoas 536,9 km² e a de Esmeraldas 909,7 km², por exemplo. Ao longo desse tempo tenho percebido a transformação da cidade em seus diversos aspectos.
Meu ponto aqui é o adensamento urbano da cidade que deveria ser percebido pelos olhares mais atentos de todos, a começar pelos governantes.
Mesmo a cidade tendo um plano diretor, que está em processo de revisão na Câmara de Vereadores, muitas são as consequências do avanço dos empreendimentos imobiliários de todas as naturezas. Pensemos no pouco conhecido mapa acústico da cidade e o quanto ele vai sendo impactado, para pior, diante da transformação urbana.
Nesse sentido, vou contar a conversa que tive com um amigo, pelo telefone fixo, na semana passada. Em tom de desabafo ele falou sobre o que está ocorrendo numa pequena rua em que mora, num edifício construído há 5 décadas em um antigo e tradicional bairro da zona sul da cidade. Seu apartamento fica no andar térreo e tem 250 m², com área privativa. Os demais apartamentos ficam do 2º ao 5º andar, dois em cada, sendo que no último estão as coberturas.
Segundo o amigo, que é síndico do prédio há 5 anos, os moradores foram surpreendidos no início de março com a demolição de dois imóveis vizinhos do prédio. O primeiro, logo abaixo, era uma casa cuja proprietária aparecia por lá durante uma semana a cada estação do ano. Em seguida ficava um pequeno prédio de dois andares e quatro apartamentos cuja aparência externa mostrava a necessidade de uma boa reforma. As demolições começaram por volta das 6h30 da segunda-feira e foram concluídas na mesma semana, por volta das 16h da sexta. O barulho trazido pela demolição foi quase ensurdecedor diante da movimentação das máquinas específicas utilizadas e manobras dos caminhões que retiraram os entulhos em caçambas. Quase sempre algum caminhão obstruía a entrada da garagem do prédio causando mais transtornos. A maioria dos moradores tem idade superior a 68 anos e muitos deles tiveram piora em seus quadros de rinite.
O fato é que na semana seguinte começou a retirada de terra nos dois lotes e a movimentação de caminhões continuou intensa. O amigo síndico conseguiu conversar com os gestores dos empreendimentos, que são de empresas diferentes, e fez as reclamações dos moradores do prédio a começar pela hora em que os trabalhos se iniciam. Até o momento, nada mudou. Apenas foi possível saber que cada terreno vai receber um edifício de sete andares com dois apartamentos por andar, cada um com 67 m².
Como se pode ver e pelo pouco que se sabe, o jeito para os moradores do prédio e outros vizinhos da rua é se preparar para resistir e sobreviver aos transtornos que serão trazidos pelos empreendimentos nos próximos 2 ou 3 anos. Quando tudo acabar, chegarão os novos moradores trazendo mais alaridos e barulhos, muitos veículos automotores, recebimento de muitas encomendas para gerar muito lixo domiciliar, além do uso da mesma rede para distribuição de água tratada, coleta de águas pluviais, coleta de esgotos sanitários e distribuição de energia elétrica…
E você caro leitor, já enfrentou alguma situação semelhante a essa?