Todo dia é dedicado à lembrança de uma ou mais coisas de natureza variada e foi assim que passamos pelo primeiro de outubro, Dia do Idoso. Vale lembrar que a lei brasileira considera idosas as pessoas com idade a partir dos 60 anos. Estima-se que o Brasil tem, hoje, aproximadamente 28 milhões de idosos e que esse número chegará a 43 milhões em 2031. Diante de tantas consequências políticas, econômicas, sociais e culturais que isso tem, de vez em quando surge alguém propondo que a idade limite seja elevada para 65 anos devido ao aumento da expectativa de vida. Apesar desse tipo de proposição, é importante conhecer onde, como (com quais condições?) e com quem (ou sozinhos?) vivem os idosos brasileiros.
Ajuda-nos a tentar encontrar respostas para essas perguntas, ainda que a título de ilustração, um caso do qual tomei conhecimento recentemente. Trata-se de uma senhora de 86 anos, solteira, servidora pública aposentada e sempre muito determinada em seus propósitos. Faz tempo que ela mora num apartamento de 100 m², com 3 quartos, numa movimentada rua no Centro de Belo Horizonte. Há seis anos ela teve importantes perdas em suas condições funcionais e passou a viver – ou sobreviver – numa configuração bem diferente do que era até então.
Uma sobrinha, hoje com 50 anos, passou a ser sua procuradora e resolve monocraticamente todas as questões relativas às coisas de sua vida. Ela montou uma estrutura operacional que conta com uma empregada doméstica, uma cuidadora de idosos para as noites de segunda a sexta-feira e outra para os finais de semana. A sobrinha também recebe os proventos da aposentadoria e dos aluguéis de dois apartamentos que a tia possui no bairro dos Funcionários. Acontece que a sobrinha resolve praticamente tudo a distância. Conta essencialmente com a empregada doméstica para as compras diárias, inclusive de medicamentos e itens de higiene pessoal, e assim chega a ficar até três semanas sem visitar a tia. Quando ela aparece por lá, a tia começa a reclamar das coisas e logo recebe réplicas em tom de ameaça por parte da sobrinha, que diz que ela será encaminhada para uma Instituição de Longa Permanência para Idosos- ILPI.
A tia, em seus tempos áureos, sempre esconjurava essa alternativa de moradia e, portanto, logo fica em silêncio diante da ameaça. Instantes depois a sobrinha dá um jeito de ir embora alegando que tem muitos outros afazeres.
Dessa história, gostaria de chamar atenção para o pré-conceito em relação às moradias para idosos e proponho uma reflexão.
É claro que existem instituições privadas de variados modelos, em função do poder aquisitivo de cada cliente, e também as filantrópicas, com as contribuições possíveis de cada morador, caso ele tenha condições. Melhor seria que as pessoas em geral tentassem conhecer melhor as moradias e centros de convivência para idosos, pois muitos de nós também poderemos precisar delas num futuro que se avizinha a cada dia. Até mesmo a sobrinha da tia idosa de hoje, que alias será a sua herdeira .
Nunca nos esqueçamos que o idoso quer carinho, atenção e tratamento digno, sem essa de ser infantilizado ou iludido com a lembrança de que está na “melhor idade”.
E você, caro leitor, o que acha de tudo isso? Será que isso só acontece com os outros que chegaram à fase idosa da vida?