Comecei a frequentar o bairro de Santa Tereza, em Belo Horizonte no ano de 1978 e a morar nele a partir de 1980. Lá se vão quase 50 anos ou meio século. É claro que o bairro foi se modificando e se transformando em seus diversos aspectos ao longo desse período, mas nada tão intenso quanto nos últimos 5 anos, após a pandemia da Covid-19.

Posso usar a expressão “quem te viu e quem te vê” para comparar os tempos de hoje com os de outrora. Porém, vou abordar apenas as grandes transformações trazidas pela quantidade de bares e restaurantes em funcionamento ao longo da Rua Mármore, a principal do bairro. Vale registrar que a rua tem aproximadamente 900 metros de comprimento ao longo de sete quarteirões e possui 32 bares e restaurantes de diferentes portes em pleno funcionamento. Neles a vida está pulsando com pessoas vindas dos mais diversos lugares, e algumas até do próprio bairro.

Acontece que a Rua Mármore se tornou um grande bar a céu aberto, onde cada empreendimento usa o seu espaço próprio, como previsto, mas geralmente ocupa o passeio com mesas e cadeiras para seus clientes, o que acaba dificultando ou impedindo o ir e vir das pessoas que precisam passar pela rua. A mesma situação também se repete na pista de rolamento, na parte destinada ao estacionamento de veículos, que é demarcada por grades em seus limites. Assim, muitas vezes as pessoas acabam tendo que continuar seus caminhos passando próximo ao meio da rua, disputando o espaço com ônibus, caminhões, carros, motocicletas e bicicletas.

Reprodução: Itatiaia

O que se percebe é que vários dispositivos legais estão sendo descumpridos como o direito de ir e vir, código de posturas municipais, Lei do uso e ocupação do solo e limites definidos pela Lei do Silêncio. É importante lembrar que o Bairro de Santa Tereza tem suas especificidades por ser uma Área de Diretrizes Especiais – ADE. Também chama a atenção o fato de alguns bares estarem usando a calçada da Praça Duque de Caxias como mais um prolongamento extra de seus espaços originais.

O estacionamento de veículos de frequentadores dos bares e restaurantes acaba acontecendo em ruas transversais à Mármore onde muitos também deixam suas marcas de variados tons.

O momento exige fiscalização e controle pelos órgãos públicos, a começar pela Prefeitura e Administração Regional Leste, zeladoria atuante e até o olhar atento do Ministério Público. Campanhas educativas em prol do uso coletivo do espaço público, num padrão bom para todos, estão fazendo falta enquanto aumentam os gritos por melhores condições de vida no bairro e também na cidade.

Vamos viver com alegria e jogar o jogo conforme as regras que são para todos os envolvidos em seus diferentes níveis e papéis. Que tudo seja bom para todos, com respeito e civilização. Cultivar ruas e praças do bairro farão bem para toda a cidade, a começar pelo próprio bairro. Problemas são para serem resolvidos, mas precisam de gestão com foco, determinação e constância de propósitos. Não podemos ficar indiferentes e inertes diante dos acontecimentos que se sucedem enquanto o tempo passa.