Meu Brasil brasileiro, tu não es mais o mesmo.
Meu mulato, hoje estarias vendendo drogas, ou lotando fétidas prisões. Vagando desempregado pelas ruas contaminadas.
O Brasil do samba, do funk e do sertanejo vê a farsa e a mentira brotar da boca de autoridades desclassificadas.
A cabeça segue a girar, confusa, a procurar o futuro, em muitos bamboleios. Em meio ao deboche geral.
Tenho amor por ti, Brasil, mas não és a terra de Nosso Senhor, dele te afastas ou te misturas em farsas.
Teu passado te condena Brasil. Teu futuro me asusta.
Abre de vez esta cortina e encara tua verdade.
Mães pretas ainda passam fome no cerrado e no semi-árido.
Tuas congadas têm menos reis Congos.
Tuas tradições agonizam entre esquecimentos e incêncios monumentais.
Muitas vezes tu calastes a boca de teus trovadores. E teus filhos viram passar muitas luas, perdendo a esperança e a vontade de cantar.
Pelos teus salões as velhas elites seguem arrastando seus vestidos rendados, elaborados por mãos infantis, femininas, exploradas, com baixos salários.
Segues bom e generoso para poucos, oh Brasil!
Tuas crianças têm merendas escolares furtadas. E também, futuros furtados.
Tuas mulheres são assasinadas.
Enquanto teus filhos miseráveis vagam desesperados sem emprego, teus banqueiros seguem se enriquecendo.
Brasil, o mundo já não admira mais teu samba. Todos se assustam com a tua lambança. Teu desprezo pela natureza e pelos mais vulneráveis revoltam muitas nações.
Tuas matas ardem em múltiplas destruições.
O que terias virado, oh meu Brasil?
Teus coqueiros já não permitem o amarrar das redes.
Enquanto teus campos enchem o mundo de soja, milho, minérios e café, teus filhos passam fome.
As noites de luar são ofuscadas pelas luzes das grandes cidades, ao tempo em que o ar poluído nos envenena. E doenças nos exterminam.
Onde estão tuas fontes murmurantes? Por toda parte água poluída e esgotos. O lixo parece brotar tal como erva daninha. Teus mares torturam os animais com sujeira.
Nem a lua, nem o sol, nem mesmo as estrelas querem brincar contigo, Brasil.
Quero ver-te lindo e trigueiro. Mas está tudo muito difícil.
Que o senhor te perdoe e volte-se para ti, Brasil.
Que teus filhos e filhas acordem e construam para ti um futuro melhor.
Está nas mãos deles, basta que enxerguem.
Esse é o Brasil brasileiro que tanto queremos.
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