Convidado
Sérgio Marchetti*

Ultimamente, tenho visto a língua portuguesa sendo tão maltratada e não é a primeira vez que venho, caríssimos leitores, desabafar com vocês.

Ao que pude saber, estão matando a Flor do Lácio, tão bem cuidada por Olavo Bilac. Talvez alguns brasileiros mais jovens nunca tenham ouvido falar dele. E, constato, que a ignorância é a mãe de todas as doenças. Pois, foi aquele poeta brasileiro que usou tal expressão no primeiro verso de seu soneto “Língua Portuguesa”, se referindo ao idioma português, por ser a última língua derivada do Latim Vulgar, falado no Lácio, uma região italiana.

Porém, a despeito de Bilac, temos a impressão de que muitos brasileiros não gostam da nossa língua. Adoram os estrangeirismos ou são os frequentadores da casa da mãe Joana, e falam errado por uma rebeldia às regras e padrões — que está na moda nos dias atuais. E nem me atrevo a falar de concordância, pois sei que nossa língua não é fácil, mas optar pela discordância verbal, propositadamente, é desobediência linguística totalmente dispensável. Não pensem que sou contra a evolução da língua. Mas quem avisa, amigo é. Saibam que as provas de redação não caíram nesse conto do vigário. Continuam exigentes e reprovando candidatos.

Pasmem, leitores que dominam o léxico. Em sua nova fase, o Museu da Língua Portuguesa adotou o pronome neutro “todes” em suas redes sociais, o que contraria às normas da própria língua. Mas papagaio que acompanha João-de-barro vira ajudante de pedreiro, e não podemos admitir que desmoralizem nossa expressão mais rica de comunicação. Há também muitas pessoas que não pontuam as frases. Dizem que não é necessário. Uma delas me disse que José Saramago também não pontuava e ganhou o Nobel de literatura. Não tive argumentos. É verdade, mas era um gênio.

Há um movimento no ar, cujo objetivo é a destruição de padrões, incluindo-se nele, a família, os costumes, as crenças, além da correção da linguagem — valores que, até então, conduziram a sociedade. E, sabemos que água mole em pedra dura, tanto bate até que fura. É o que esperam os detratores da comunicação, pois, onde há fogo, há fumaça e devagar se chega ao longe, mas, cá entre nós, sentimos vergonha alheia quando, de repente, soltam uma pérola como “vareia”, “interviu”, “maqueia” e frases profundas como: “A fé é uma graça através da qual podemos ver o que não vemos” ou “O calor é a quantidade de calorias armazenadas numa unidade de tempo”. Sim, exigentes leitores, não é fácil sofrer tanta tortura, “Enem” aguentarmos ouvir tanta bobagem. Pior é que as agressões aos nossos ouvidos não ficam somente nos estudantes, mas também em profissionais em entrevistas de televisão que dizem: “a perca foi grande”, e “que se soubesse tinha trago o documento solicitado.”

Seguindo por esse caminho, há que se observar que a vida é um processo em construção e, que há milhares de anos, outros, antes de nós, arquitetaram o futuro e criaram regras e itinerários seguros para que tivéssemos mais conforto, longevidade, saúde e cultura. Desfazer caminhos é uma ação que exige discernimento e, para tal, se faz necessário ter conhecimento. E aquele que desqualifica o saber, está mais perdido do que um barco à deriva. Lembrem-se de que quem desdenha quer comprar. Antigamente, quando nos deparávamos com um indivíduo que desejava subverter a ordem, dizíamos que era do contra. E, dependendo da ordem: iconoclasta. Mas “no fundo” não passa de um chato que ainda terá que aprender que a essência da palavra liberdade não é simplesmente fazer o que “der na telha”, mas sim aprender a respeitar as regras e o direito do outro.

Pensem nisso, porque, depois, não adianta chorar pelo leite derramado.

*Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br