Apertem os cintos. A economia chinesa flutuou por um bom tempo em céu de brigadeiro e agora precisa pousar e ninguém sabe onde. Após uma forte recuperação pós-Covid no primeiro trimestre, a segunda maior economia do mundo está mostrando sinais de fraqueza, com produção industrial, vendas no varejo e investimento fixo crescendo em um ritmo muito mais lento do que o esperado. A recuperação imobiliária também está ficando para trás, enquanto a taxa de desemprego juvenil atingiu um recorde e provavelmente vai piorar. As ações da montadora elétrica chinesa Xpeng Inc. caíram mais de 5% esta semana após seu decepcionante relatório de ganhos do primeiro trimestre , que ficou aquém das expectativas. Quando se pensa em minério de ferro ai que a coisa se complica. Foi apenas a evidência mais recente de que o crescimento da China, que até agora foi impulsionado pela liberação da demanda reprimida, está perdendo força.

O FMI chegou a dizer que a China deve responder por cerca de um terço do crescimento global em 2023. Só quem ninguém está acreditando nisso. As frustrações com esse crescimento devem preocupar os mercados neste momento em que todos esperavam a retomada. A preocupação chinesa com empregos pode estar desacelerando o consumo doméstico. Consequentemente, muitas empresas permanecem cautelosas quanto ao aumento de gastos de capital ou contratação de mais pessoas. Com isso, os dados recentes deixaram os analistas se perguntando se os números otimistas do primeiro trimestre foram apenas "uma marolinha" e se a economia está caminhando para a turbulência no resto do ano. 

A lenta recuperação do país não poderia vir em um momento pior para o crescimento global. Os EUA estão sob pressão do pior susto bancário desde a crise financeira de 2008, bem como um impasse de teto de dívida que ameaça um calote. O setor industrial em dificuldades da Alemanha corre o risco de levar a potência da Europa à recessão.

No Brasil, seguimos em compasso de espera para ver o que vai acontecer. A aprovação do arcabouço fiscal com ampla aprovação dos deputados (372 a favor e 108 contra, sendo que só eram necessários 257 votos) gera impacto no mercado, após ajustes que eliminaram o aumento automático de 2,5% acima da inflação nas despesas de 2024 (uma mudança positiva. Agora, depois da votação dos destaques, o projeto será enviado ao Senado para ser apreciado. No final, o relator Cláudio Cajado removeu do parecer o ponto mais controverso, que permitia o aumento dos gastos no teto no próximo ano, independentemente da arrecadação (a medida ampliaria os gastos no próximo ano em cerca de R$ 80 bilhões). Em linhas gerais, foi respeitada a regra original enviada pelo governo do arcabouço fiscal. Isso mostrou unidade política em torno de pautas econômicas.

O movimento também uniu os presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, em prol do fortalecimento do arcabouço fiscal e da reforma tributária, o próximo tema macroeconômico a ser debatido. Deu um indicativo importante ao mercado, que temia revisionismo na Lei do Saneamento e privatização da Eletrobras. No contexto atual, loucuras econômicas parecem fáceis de serem evitadas. Estamos sem céu de brigadeiro e sem mar de almirante. Peguem os seus paraquedas ou coletes infláveis.