“Se muito vale o já feito, mas vale o que será. E o que foi feito é preciso conhecer, para melhor prosseguir”


É o que dizem Milton Nascimento e Fernando Brant na música O Que Foi Feito Devera, de 1978. Eles nos inspiram a pensar e agir neste momento em que o processo de vacinação contra a Covid-19 e suas mutações ganha velocidade.

As pessoas imunizadas com a primeira dose da vacina já passam de 153 milhões e as com a segunda dose ou dose única superam 109,7 milhões. Sem contar a dose de reforço, que já chegou a mais de 6, 1 milhões de pessoas.

Diante disso passamos pela flexibilização das medidas de segurança sanitária que foram fundamentais para o combate ao vírus e a sua disseminação. São visíveis os resultados alcançados, apesar de todos os pesares e perdas. Mas a pandemia ainda não acabou e a Organização Mundial da Saúde nada disse em contrário até o momento. Inegavelmente existem diferentes situações na terra globalizada e também diferentes atitudes perante a pandemia, inclusive a de não se vacinar.

O avanço da vacinação mostra seus reflexos na redução das internações nas enfermarias e UTIs dos hospitais bem como na redução da velocidade de transmissão do vírus. Assim, estados e municípios começam a flexibilizar as regras de segurança. Apesar de alguns balões de ensaio pra suspender uso de máscaras e higienização das mãos, os infectologistas e demais especialistas recomendam que seu uso siga permanente, sobretudo em locais fechados e pouco ventilados.

Diante disso o que esperar do comportamento das pessoas que cumpriram disciplinadamente as medidas de segurança sanitária e ficaram em casa sempre que puderam? Será que quem passou pela incerteza, insegurança e medo diante de tantas perdas materiais e humanas, estaria agora com muita ansiedade para rapidamente tirar o atraso em relação ao que deixou de fazer anteriormente? Nesse sentido ainda continua válido pensar em como as nossas escolhas individuais terão consequências para a coletividade. Mas são perceptíveis muitos sinais de pessoas que estão indo com muita “sede ao pote” depois de terem feito tudo conforme os padrões sanitários.

Lembrei-me de um casamento ocorrido numa cidade do quadrilátero ferrífero de Minas Gerais no sábado em que começou o feriadão comemorativo da padroeira do Brasil. O casamento havia sido adiado duas vezes e a empresa contratada para fazer a festa deu um ultimato, dizendo que não negociaria um novo adiamento. A festa acabou sendo feita para 200 participantes, a metade do que era previsto inicialmente.

Em torno de 20% dos participantes entraram no local usando máscaras. Quatro deles relataram olhares atravessados dos que dispensavam o equipamento de segurança, como que a questionar o uso da máscara no local da festa com aglomeração livre. Muitos também foram os abraços calorosos trocados por algumas pessoas falando em saudades.

Quem me contou esses fatos deu um jeito de sair logo do ambiente após cumprir um protocolo para não abalar uma antiga amizade. Fiquei sabendo de gente que está fazendo uma lista de pessoas a serem visitadas daqui para frente e que estão se perguntando se estarão na lista de alguém.

Será que já dá para ficar durante duas horas numa sala de cinema ou num teatro na configuração clássica das cadeiras, mesmo com uso de máscaras? E ir a um estádio com lotação permitida cada vez maior? A decisão é de cada um e o risco é para todos.  Estão vindo aí os feriados de Finados e Proclamação da República, o Natal, a virada do ano, as férias de verão, o Carnaval…