Convidado
* Sérgio Marchetti
O ano novo é um momento para reflexões e mudanças daquilo que não deu certo no ano que se findou. Sim, meus persistentes leitores, o momento pede planejamento, resiliência e sabedoria. Mas embora seja novo, o mundo está mais velho e nós também. A experiência nos chama a rever ensinamentos que deram certo e que são atemporais. Então, nestes primeiros dias, estou me dedicando a reler alguns livros. E, mexendo em minha estante, para minha surpresa, alguns me chamaram mais a atenção. A falta que ela me faz, de Fernando Sabino, foi um deles. O livro é muito bom, mas confesso que não é dos meus preferidos. Dos livros do autor, gosto mais do Encontro marcado e O grande mentecapto. Ambos são primorosos. Mas deixemo-los para depois e vamos pensar na falta que Sabino diz sentir, e que pode ser de tanta coisa. No texto, inicialmente, ao dispensar a empregada doméstica, a primeira descoberta da falta foi justamente quando viu que tudo estava em desordem. Entretanto, “ela”, de acordo com o escritor, pode ser muitas coisas: a liberdade, a democracia, a sinceridade, a esposa etc.
Imagino que os leitores estejam tentando entender o que pretendo trazer de interessante, pois o ato de ler (referido por mim em outra oportunidade) tem sido sacrificante para tantos e passou a ser um diferencial e uma qualidade. E, ao constatar tal verdade, o pesar toma conta de mim, porque sem leitura o raciocínio é mais lento, a fluência fica prejudicada, a compreensão se torna difícil, a escrita pobre e o fracasso na interpretação de texto é iminente.
Diante disso, creio que poderemos avaliar a falta que a leitura nos faz. Mas, como disse, assim como Sabino, lograremos examinar tantas coisas que nos fizeram e fazem falta, com o intuito de começarmos a próxima jornada cometendo menos erros — o que por si só já representa um avanço. Portanto, comecemos pelo o que nos faz falta. Garanto-lhes que não tenho o dom de adivinhar, porém, posso ajudá-los sugerindo que comecem por aquilo que podem mudar, sem precisar de terceiros. Talvez, como exemplo, ter mais amigos, mais viagens, participar de eventos, fazer cursos e ler mais.
Vocês sentem falta de namorar? De encontrar com amigos e visitar parentes? Ah! Sentem falta de ficar em casa? De ir ao cinema em vez de ficar de pijama em frente à televisão? Eu sinto falta de tantas coisas… e, fortemente, da presença de meu pai, que partiu em 2022. Mas também ando carente de uma sociedade humanizada, de mais pessoas honestas, de solidariedade, de menos corrupção e de mais justiça.
Enfim, sinto falta de um mundo que já vivi, que sei que era real, de mais afeto, amizades, sinceridade, mas que não há como recuperá-lo. Aí, giro meu caleidoscópio e vejo, assim como os dias, que o movimento é o mesmo, mas que os resultados são diferentes e que há um número enorme de possibilidades de vermos imagens mais bonitas e coloridas. E, como disse o escritor Richard Bach, enquanto estivermos por aqui ainda teremos uma missão a cumprir.
O que vocês estão esperando meus inovadores leitores? Um caleidoscópio?
Que falta que ele faz.
*Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br