Convidado
*por Malco Camargos
Ainda falta um ano para as eleições e as campanhas estão a todo vapor. De um lado, a situação representada pelo Presidente Jair Bolsonaro que, mesmo negando em comunicado à nação, age como um jogador apostando no “tudo ou nada”. Bolsonaro sabe que já não tem mais a quantidade de votos que teve outrora. Sabe que seu governo não entregou o que era esperado. Sabe que não deu conta de resolver os problemas do país. E, como sabe que irá perder as eleições, busca inimigos, busca culpados, busca justificativas para explicar o que não fez e, também, para tentar permanecer no poder por mais tempo.
De outro lado, nomes da oposição se colocam de maneira diferente no tabuleiro político. O líder da disputa no momento, o ex-presidente Lula, aposta em uma campanha retrospectiva, de comparação entre como era a vida enquanto ele era presidente e como é a vida agora. Usando e abusando de gatilhos de memória, Lula destacará os sonhos de um tempo versus as agruras do presente.
Além de Lula, a oposição conta também com outros nomes, mais ao centro, que buscam os chamados eleitores “nem-nem”- aqueles que não querem nem Lula, nem Bolsonaro. Pelo PSDB a disputa ainda está em níveis internos e, com a realização de prévias, o partido escolherá entre João Dória e Eduardo Leite. Ambos pré-candidatos têm como ponto forte do discurso a palavra “gestão”. O PSDB aposta que a falta de gestão do governo Bolsonaro pode fazer com que o eleitor aja de maneira mais racional em 2022 e valorize a capacidade de gestão tradicionalmente destacada pelos tucanos.
Mais próximo de Lula está Ciro Gomes, que busca polarizar com Bolsonaro mas fica muito perto do eleitor de esquerda que, no momento, prefere o ex-presidente Lula e deixa limitado o espaço de crescimento do pré-candidato do PSB.
Outro pré-candidato importante no momento é o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. O senador mineiro tem se apresentado como um conciliador e aposta na estratégia da pacificação como sendo o principal argumento para alavancar sua candidatura nos próximos meses.
Os últimos movimentos, principalmente após o dia 07/09, demostram que a terceira via terá que rever suas estratégias pois, por mais que tenha perdido força, Bolsonaro ainda mantém um percentual significativo de votos que dificilmente o deixa fora do segundo turno. Aos que buscam os eleitores “nem-nem” resta trabalhar para a união com outros candidatos ou apostar, eventualmente, em uma decisão da justiça que possa tirar do jogo um dos dois candidatos que lideram a disputa atualmente.
Parece longe mas, como podemos ver, 2022 está logo ali.
*Malco Camargos é Doutor em Ciência Política, diretor do Instituto Ver Pesquisa e Estratégia e professor da PUC Minas.