O programa Fantástico da Rede Globo de domingo dia 20/01, que eu não assistia há alguns anos, trouxe reportagem sobre o drama de quem depende de ônibus em São Paulo e no Rio de Janeiro. Embora não tenha aprofundado, a matéria conseguiu expor o que é o dia a dia de pessoas submetidas ao ambiente insalubre do transporte coletivo por ônibus. A temperatura média interna dos coletivos pode ultrapassar 60 graus.
BHTrans piorou o serviço depois de 1993
Desde que assumiu o gerenciamento do sistema de transporte coletivo por ônibus em 1993 a BHTrans impôs aos usuários realidades diferentes, choque de culturas e até hábitos de higiene incompatíveis de populações numa mesma cidade. O modelo diametral uniu bairros distantes da capital, desrespeitando o principio da necessidade e as diferenças regionais, impactando negativamente no conforto e no valor da passagem que ficou mais cara.
Na ocasião Iniciei campanha para chamar atenção das autoridades e da opinião publica sobre os danos causados a quem usa o sistema, especialmente as linhas em que o serviço caiu de qualidade depois de 1993. Muito pouco mudou nos 25 anos que se passaram. As carrocerias montadas em chassis de caminhão seguem inadequadas ao clima e a topografia da capital. Elas podem ter evoluído em tamanho, mas a falta de conforto e ambiente promíscuo permanece inalterada há 50 anos, desde que o bonde saiu de cena em 1963 para dar lugar aos ônibus.
Realidade de BH não é diferente do restante do país
O ambiente insalubre não é exclusivo dos ônibus de BH. As carrocerias que atendem as cidades brasileiras são fabricadas em Joinville e Caxias do Sul, onde estão concentradas as duas maiores montadoras. O mesmo modelo de ônibus que atende Curitiba, Porto Alegre e Florianópolis, capitais com temperatura anual variando de 14 a 22 graus, servem também as cidades de Manaus, Belém, Macapá, Cuiabá, Palmas, Salvador, Rio de Janeiro, onde a temperatura ultrapassa a casa dos 40 graus. Os chassis são os mesmos para todo o país, independente do clima regional.
O trabalhador brasileiro sofre mais desgaste e exposições no ir e vir do que no exercício da sua profissão. A indústria de ônibus não demonstra qualquer sensibilidade no quesito conforto, e quem faz a regulação e estabelece parâmetros para o sistema menos ainda. Só quem vive o drama diário sabe o que é passar mais de 2 horas por dia dentro de ônibus lotados, por vezes sujos e impróprios para o transporte humano. O CNTC - Conselho Nacional de Transporte Público, sediado em Brasília cuja função é fiscalizar e determinar quais os equipamentos, (carrocerias e motores) demonstra insensibilidade e desconhecimento da realidade.
Tive a oportunidade de fazer uma pergunta básica para seis representantes do CNTC em 2007 na Assembleia Legislativa de Minas em audiência pública sobre a licitação do transporte coletivo de BH: qual deles conhecia por dentro um ônibus e recebi como reposta que nenhum havia usado coletivo durante suas jornadas à trabalho ou a lazer. O deputado que promoveu a audiência, também confessou publicamente que nunca andou de ônibus na vida. Dos 3.500 ônibus em circulação, apenas 15% tem ar condicionado em BH.
10% da frota de ônibus tem ar condicionado no Brasil.
O Brasil tem aproximadamente 220 mil ônibus, e apenas 10% deles nas regiões Sul e Sudeste possuem sistema de ar condicionado. Com efeito, mais grave acredite não é o calor, mas a ausência de sistemas de exaustão que possibilitem a renovação e substituição do ar dentro dos ônibus. Imagine em um dia de chuva um coletivo com 70 passageiros e todos os vidros fechados? As chances de contaminação por doenças respiratórias são reais. O assunto merece atenção das autoridades e da comunidade científica, pois representa risco à saúde publica. Tema também relacionado à economia, pois é motivo direto de baixa produtividade do trabalhador que além de tempo, coloca em risco a própria saúde.
José Aparecido Ribeiro
Jornalista - Consultor em Assuntos Urbanos