Tarifa zero para ônibus em BH é possível se alguém pagar a conta no lugar do usuário. Não existe almoço grátis assim como não existe sistema de transporte público a preço zero sem subsídios governamentais. Se o transporte for pago pelo governo, o dinheiro necessariamente deve sair de algum lugar, e todo mundo sabe que é do bolso do contribuinte através dos impostos que a passagem deverá sair. Essa equação não tem ideologia, “mimimi” e nem conversa fiada, é matemática.
A proposta de tarifa zero em Belo Horizonte é uma afronta à inteligência alheia, proselitismo, picaretagem, enganação com fins partidários, interesses escusos de gente mal intencionada que mente impunemente. A falácia todo mundo sabe tem viés ideológico e precisa ser desmascarada urgentemente. Perjúrio em países civilizados é crime, aqui é moeda de troca por votos de eleitores incautos. Por enquanto…
Lembro que óleo diesel, pneus de ônibus, salários de cobradores, motoristas, mecânicos e todos os custos de uma empresa de transporte coletivo, devem ser pagos em dinheiro, e ele não brota em árvore. O transporte de passageiros em BH é feito por empresas que participaram de concorrência pública acompanhada pelo Ministério Publico, pela justiça e pela imprensa, ainda que a memória da última de vez em quando falhe…
O Edital teve regras claras e pressupostos que não são estabelecidos pelos contratados (empresários), mas pelo outorgante que neste caso é a Prefeitura de Belo Horizonte. O certame aconteceu dentro de regras preestabelecidas, transparência, boa fé, contratos reconhecidos legalmente e que não podem ser rasgados ao bel prazer de políticos fanfarrões ou “economistas” de araque que falam em nome da coletividade. O edital prevê 10 anos de obrigações, começou em 2008 e terminará em 2028.
O contrato prevê reajustes anuais para que haja equilíbrio financeiro e o sistema possa funcionar atendendo à demanda dos usuários (passageiros). Ou seja, os percentuais de reajuste não saem de cartolas e nem da imaginação de esquerdopatas oportunistas, são fórmulas matemáticas consagradas, (engenharia financeira pura) estipuladas antecipadamente na licitação que deu origem a concessão. No linguajar especifico são calculados pela variação do IPK (Manual de Cálculo Tarifário), índice que mede o custo do km rodado dos ônibus versos a quantidade de passageiros transportados por quilometro.
Na medida em que o volume de passageiros cai, o IPK aumenta e vise versa. Todo mundo sabe que houve uma evasão significativa de passageiros no sistema coletivo (em média 14%) de 2008 até hoje, motivada por razões também objetivas: Desconforto, trânsito que não anda na região central da capital, falta de mobilidade e conexões, invasão dos aplicativos de transporte alternativos (UBER, Cabify, 99 taxi, entre outros) e principalmente as facilidades para aquisição de carros e motos. Ficou mais barato e cômodo usar o carro ou a moto do que deslocar de ônibus em BH.
Com efeito, a perspectiva de melhora na economia faz essa equação piorar, com possibilidade das empresas terem que reduzir custos e aumentar as passagens, querendo ou não o prefeito e a turma do deixa disso que propõe tarifa zero. Empresas de ônibus não são instituições filantrópicas sem fins lucrativos, é ramo de negócio como qualquer outro que trabalha buscando lucro. E isso não é proibido no Brasil, embora alguns militantes que defendem caridade com “chapéu alheio” não consigam compreender, preferindo o proselitismo barato.
A eles peço vênia, pois não adianta demonizar empresários de ônibus como se fossem homens desonestos que montam empresas para lesar as pessoas, nem tampouco o prefeito deveria vir a público dizer que vai abrir “caixa preta” que não existe, até por que se existisse, ao invés de abri-la, o que ele fez foi entregar a chave para o dono, o atual presidente da BHTrans, Célio Bouzada.
Prefeito kalil, se V.Exa não sabe, o responsável pela construção do Edital que deu aos empresários dos ônibus representados pelo SETRA o justo direito de explorar o sistema de transporte da capital foi o seu representante na BHTrans, e ele até merece reconhecimento, pois a peça técnica do certame foi e continua sendo exemplo para outras capitais. Uma das poucas coisas aproveitáveis que a BHTrans conseguiu fazer até hoje nos seus 30 anos de desserviços prestados a população de BH.
*José Aparecido Ribeiro
Jornalista – DRT 17.076 – MG