Aos 51 anos de idade, sendo 28 deles dedicados a hotelaria, eu achava que não fosse me surpreender mais com noticias sobre fechamento de hotéis. Participei diretamente na abertura de pelo menos quinze bons hotéis ao longo da carreira, como executivo ou consultor, e até acho natural à renovação, ela é necessária para que haja modernização da oferta de hospedagem nas cidades. Porém alguns hotéis a gente nunca imagina que vai acabar, e o Belo Horizonte Othon Palace era um deles.
Lembro-me do primeiro dia que pisei no Othon, 28 de dezembro de 1988, uma quarta feira e eu era um iniciante no ofício cursando o primeiro período de faculdade, com apenas 20 anos. Ali dei meus primeiros passos numa carreira que dura 28 anos. Como promotor de vendas no maior e mais famoso hotel de Belo Horizonte, me sentia nas nuvens, o cheiro do hotel me deixava inebriado. Era o sonho de qualquer estudante de hotelaria fazer parte da equipe que tinha no comando Celso Morandi, Milton Rodrigues, José Carlos (Zé do Park), Jamir Honorato, Peter Jacob, Angela Pena e tantos outros.
Foi assim com dezenas de profissionais que iniciaram suas carreiras na maior empresa de hospitalidade do Brasil, uma reconhecida escola de hotelaria. Por muitos anos o BH Othon foi referência, único hotel 5 estrelas de BH. Por cinco anos tive o privilégio de aprender com profissionais do mais alto nível. Fiz amigos que duram até hoje, tive ascensão na carreira que considero de sucesso, me permitindo posições de destaque e um pé de meia que é minha sobrevivência atualmente.
14 anos depois de ter iniciado como promotor de vendas no BH Othon, recebi a honra de ocupar a presidência da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis – Seção Minas Gerais - por dois mandatos, e conversar de igual para igual com um dos maiores ícones da hotelaria nacional, meu ex-patrão, Dr. Alvaro Bezerra de Melo, fundador do Grupo Othon, homem de virtudes raras e humildade franciscana. Foram anos de aprendizagem associativa que também serviram como lição de vida.
O fechamento do Belo Horizonte Othon Palace tem sentido mais amplo do que apenas o fim de um dos mais importantes hotéis de BH em um mercado decadente, ele representa simbolicamente o fundo do posso, o fracasso do estado de Minas Gerais, e a estagnação de uma capital que já teve importância no cenário nacional. Belo Horizonte está mergulhada em uma paralisia sem precedentes, sua economia arrasta-se em frangalhos, sua infraestrutura permanece defasada, com uma governança medíocre, jogando contra os interesses da cidade, há pelo menos 20 anos. Chamo atenção para o desastre que é o PT na gestão da coisa publica em todos os níveis de governo onde atuou.
A copa do Mundo que todos achavam ser a redenção permanente da cidade deixou legado que está custando caro para o setor hoteleiro. A capital recebeu 8 mil novos quartos em mais de 50 hotéis, que estão sobrevivendo aos trancos e barrancos, disputando hóspedes a laço. Depois de 2014 oferta e demanda não andaram mais de mãos dadas, fazendo ocupação e diária média dos hotéis despencarem, com consequente baixa de rentabilidade e fechamento de grandes empresas como o Othon Palace.
Com efeito, fica a sensação de que o turismo não existe enquanto atividade econômica para gestores publicos, embora seja uma das poucas áreas capazes de gerar empregos e impostos no volume e na velocidade que a cidade demanda. BH ganhou um aeroporto internacional que é motivo de orgulho, mas vem negligenciando a importância do aeroporto central da Pampulha, que poderia ser atrativo para executivos e organizadores de eventos.
O turismo é carro chefe de milhares de cidade mundo afora, porém aqui tem sido tratado como moeda de troca de partidos de esquerda oportunistas. Basta lembrar-se dos três últimos secretários que nunca tinham ouvido falar do assunto, mas que foram abrigados na secretaria para cumprir compromissos de campanha. O trade perdeu as forças que outrora tivera para exigir dos governantes nomes com experiência e capacidade técnica comprovada para gerir a secretaria de turismo.
Assistir o fechamento de um dos mais importantes hotéis da capital é triste, mas o futuro da hotelaria de Belo Horizonte é ainda mais preocupante. No mundo inteiro letreiros de hotéis são permitidos para sinalizar e facilitar a chegada de hóspedes aos seus locais de hospedagem, aqui eles são proibidos para atender caprichos de urbanistas desconectados da realidade e que desconhecem a dinâmica do turismo.
No mundo inteiro os toldos que avançam sobre as calçadas para receber hóspedes e protegê-los da chuva ou do sol são permitidos, aqui eles são proibidos. No mundo inteiro hotel é atividade geradora de receitas para os municípios e por isso recebem incentivos de IPTU, ISS e tratamentos diferenciados, aqui paga-se valores exorbitantes e ainda se convive com uma praga chamada ECAD.
No mundo inteiro é permitido a hóspedes estacionar para embarque e desembarque nas portas dos hotéis, aqui eles são multados e rebocados graças a intolerância, a miopia e a insensatez de gestores públicos que cuidam do trânsito sem a consciência do significado do turismo para a cidade. São exemplos que mostram que a hotelaria chegou a uma encruzilhada: Ou faz dessa noticia azeda que é o fechamento do BH Othon uma limonada completa, ou mais hotéis em breve terão o mesmo fim. Não dá mais para esperar...
José Aparecido Ribeiro
Jornalista/ Bacharel em Turismo
Profissional de Hotelaria por 29 anos e ex-presidente da ABIH/MG
Colunista nas revistas Minas em Cena, Exclusive, Mercado Comum e no portal uai.com.br
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