No próximo 30 de junho completam-se 24 anos do lançamento da terceira fase do Plano Real com a entrada em vigor do Real, a moeda do plano. Entre as premissas para a sustentabilidade do Plano estavam a desindexação da economia, visando dissociar os reajustes de preços dos índices da inflação de um período anterior, a paridade do Real com o Dólar e a busca pelo equilíbrio das contas públicas, esta até hoje uma grande peleja.

Como os índices de inflação são medidos por um indicador que expressa uma média de preços coletados e ponderados por faixas de renda, que variam de um a 40 salários mínimos, vale lembrar que essa média mascara a variabilidade dos preços e sua importância nas diferentes categorias de consumo. Assim fica mais fácil perceber que o índice de inflação para os idosos acima de 70 anos pode ficar acima da média geral, bem como o índice de inflação da área da saúde – bastante influenciado pelos alegados altos custos de consultas médicas, exames para diagnósticos, internações hospitalares, cirurgias e planos de saúde.

Neste momento em que a inflação medida pelo IPCA do IBGE nos últimos 12 meses ficou em 2,76% é importante tentar compreender como os impactos de determinados aumentos de preços vão pesar no poder aquisitivo das pessoas numa conjuntura em que cada um tenta sobreviver e se manter como pode. Fica visível que os grandes aumentos de preços, verdadeiros “tarifaços” noticiados pelas grandes mídias, geralmente estão ligados àqueles administrados pelo Governo Federal através de suas agências reguladoras que sabem muito bem encontrar um lado.

Quem olhar os preços de combustíveis, como a gasolina, óleo diesel, gás de cozinha, por exemplo, poderá verificar que nos últimos 10 meses o aumento supera os 50%, a despeito de todos os argumentos usados para justificar a política de preços endossada pela Agencia Nacional de Petróleo. Nessa mesma direção uma olhadela para os planos de saúde, regulamentados e fiscalizados pela Agencia Nacional de Saúde Suplementar, mostram uma grande febre inflacionária com índices que podem variar de 13% na modalidade empresarial a 27% em planos por adesão, isso para não falar nos decrescentes planos individuais também sendo reajustados por índices de dois dígitos.

Vários outros exemplos podem ser dados, como ocorreu com as mensalidades escolares privadas que foram reajustadas de 8% a 15% ou nas encomendas dos Correios, cujos preços aumentaram de 8% a 51%. Até o final de maio entrará em vigor o aumento da energia elétrica da Cemig. que será em média de 25,7% se prevalecer a proposta apresentada à Agência Nacional de Energia Elétrica. Por último, o que dizer da tentativa da CBTU de aumentar em 89% o preço das passagens do metrô de Belo Horizonte após mantê-las em R$1,80 durante 12 anos?

Por outro lado, que índices de reajustes salariais estão sendo propostos às categorias profissionais que estão em negociação com os patrões nesses tempos de baixos índices inflacionários e 13,7 milhões de desempregados? O que se vê por aí não tem variado muito além de 1% a 2%, acompanhados da tentativa de retirada de conquistas trabalhistas anteriores, isso para ficar apenas no setor privado. Já no desequilibrado setor público, com muitos estados quebrados e muitos municípios no mesmo caminho, também nada está fácil para os reajustes salariais.

A sensação que fica tem um pouco do gosto do “salve-se quem puder” e da “Lei de Murici”, dizendo que “cada um cuida de si”.