Já estou sentindo um certo cansaço de tanta falação envolvendo a greve dos caminhoneiros e seus desdobramentos que impactaram fortemente a logística do cotidiano de nossas vidas, indo desde a escassez de bens e serviços até aos aumentos de preços inerentes à lei da oferta e da procura que rege o mercado. Talvez este certo cansaço possa ser decorrente da exaustiva abordagem dos fatos e dados que vão se sucedendo dinamicamente na conjuntura e aos quais ficamos expostos nas diversas mídias que frequentamos e nas conversas que surgem no ambiente familiar, no trabalho, nas confraternizações…

É claro que não podemos negar a realidade que nos assombrou durante a greve. Havia a expectativa do desabastecimento e a perspectiva de dias mais sombrios caso crescesse a impossibilidade de se atender às necessidades humanas básicas de sobrevivência e segurança. Afinal de contas, um colapso do sistema de vida de uma sociedade que se diz civilizada tem o dom de trazer medo e pânico para muitos de seus membros. Nesse sentido vale até lembrar a clássica e amarga constatação de uma pessoa dizendo que tinha dinheiro, mas não tinha nem o quê e nem como comprar. Essa pessoa se lembrou de 1986, no Plano Cruzado, quando havia escassez e preços congelados.

Mas se isso é o que temos para o momento e sabedores de que “quanto pior, pior mesmo”, só nos resta encarar a situação com muita resiliência e sem perder a capacidade de manifestar toda a insatisfação com o desgoverno que reina no país. Ainda assim, e esperando as próximas eleições com muito realismo diante de tantas incertezas, que aprendizado as pessoas podem ter após sobreviver ao desabastecimento? É interessante e importante avaliar a falta que nos fizeram vários bens e serviços que tiveram a disponibilidade reduzida ou até mesmo ficaram indisponíveis.

A reflexão que proponho deve ser acompanhada da implementação de ações que demonstrem mudanças de atitudes em função das oportunidades identificadas. Apesar do “consumo, logo existo” e da ostentação inerentes ao capitalismo, é possível identificar e viver dignamente só com aquilo de que necessitamos? Se faltar batata, tomate, cebola, frutas, produtos derivados do leite, serviços públicos ou tanque do automóvel cheio de gasolina dá para prosseguir sem entrar em pânico?

É relevante também avaliar o nosso comportamento ao longo dos 11 dias da greve e o desenrolar das negociações com o fragilizadíssimo governo federal. Imagine o seu plano estratégico ou o de sua família caso a greve durasse 20 ou 30 dias, aprofundando o desabastecimento. Seria uma oportunidade para exercitar e definir o que é necessário, essencial e deixar de lado o que é supérfluo ou que pode ter seu uso postergado. De repente poderá ser possível perceber o tamanho dos desperdícios ou da gula perante o consumo exacerbado…

Como foi a sua experiência vivenciando o processo de desabastecimento? Você conseguiu enxergar possibilidades positivas para mudar algumas atitudes que poderão melhorar o seu modo de vida?