'Chacrinha: O Velho Guerreiro', que estreia nesta quinta (8), refaz parte da trajetória do apresentador que fez história na TV

Mais do que um apresentador, José Abelardo Barbosa, o Chacrinha (1917-1988), foi uma figura influente em todas as áreas do entretenimento. Visionário, lançou artistas e criou tendências. Ao longo de sua trajetória na TV, comandou um programa que virou referência para muitos outros, mesmo nos dias de hoje.

Chacrinha é, sem dúvida, um personagem incrível, e sua trajetória artística e pessoal rende uma história digna de ser contada. “Chacrinha: O Velho Guerreiro”, filme de Andrucha Waddington, que estreia nesta quinta-feira (8), traz os melhores e piores momentos da vida do artista, do pai e do homem. Mostra os sucessos e os fracassos, muitas vezes frutos de sua profunda teimosia, e emociona o espectador ao mostrar nuances da personalidade do Velho Guerreiro que poucos conhecem.

O roteiro de Claudio Paiva (“TV Pirata” e “A Grande Família”) valoriza os anseios, os sonhos e as aflições do homem à parte de sua arte, mas também enaltece o comunicador, criador desse personagem que ganhou as massas. Um artista que lutou por sua liberdade de expressão e que nem a censura calou. “Chacrinha defendeu suas ideias sempre”, afirma Stepan Nercessian, intérprete do Velho Guerreiro. “Ele brigou com as emissoras, com os executivos, com a censura, com a Igreja… Teve até uma junta médica, psiquiátrica, para dizer que ele não poderia estar na TV”.

Bastidores

A trajetória de Chacrinha começa a ser contada a partir de 1939, quando Abelardo sai de Recife a bordo de um navio em que trabalha como baterista e desce no Rio, onde se encanta com os bastidores de um cassino. Lá, no meio de plumas, paetês e smokings, o jovem constrói o sonho de comandar seu próprio show. Claro que o início não é fácil. E a primeira parte do filme mostra essa dura escalada. Abelardo tenta emprego numa rádio e é chamado de “palhaço”, mas logo ganha um programa de madrugada numa pequena emissora e começa sua jornada criativa, com singularidade e sem medo de se expor.

Nesta primeira fase, Abelardo é interpretado por Eduardo Sterblitch, que mostra outro lado sem ser o do comediante. “Gostei muito de ver o Edu. Ele fez um grande trabalho de ator mesmo”, elogia Stepan. Ele conta que Waddington pediu que os dois atores ensaiassem juntos para dar unidade ao personagem. “Passava o texto com o Edu e até dizia as falas dele para a gente chegar no mesmo tom do Chacrinha”, lembra.

Já para Stepan o exercício de ser Chacrinha chegou antes, com um musical, também dirigido por Waddington, e num especial para a Globo. “No começo procurei imitar os trejeitos, mas depois, mais do que imitar, tentei compreender o Abelardo para chegar ao Chacrinha”, diz.

Quando o “Cassino do Chacrinha” ganha popularidade no rádio, Abelardo decide apostar na TV, na qual trabalha com José Bonifácio Sobrinho, o Boni (Thelmo Fernandes). Os dois iniciam uma relação de altos e baixos, mas de grande importância para ambos. A cena que abre o longa é justamente uma crise entre Chacrinha e Boni nos bastidores da Globo, quando o diretor tira o programa do ar.

Ao longo do filme, o espectador vê o sucesso profissional de Chacrinha, mas enxerga também o preço que ele pagou por sua obsessão pelo trabalho. Sua mulher, Florinda (interpretada pelas atrizes Amanda Grimaldi e Carla Ribas), cria os três filhos sozinha. E, quando eles crescem, o pai os leva para trabalhar com ele, no “Cassino”.

Como não poderia deixar de ser, o filme mostra a importância do Velho Guerreiro para a música brasileira, afinal, pelo palco do “Cassino” passaram artistas de todas as vertentes, desde Ney Matogrosso a Sidney Magal, passando por Raul Seixas e bandas como Titãs. “Enquanto Gilberto Gil saía por um lado do palco, o Waldick Soriano entrava pelo outro”, fala Stepan. “O Chacrinha é a cara do Brasil”.

Plumas e paetês

A atriz Gianne Albertoni dá vida a Elke Maravilha, que tinha com Chacrinha uma relação de pai e filha. Para se “montar” e virar Elke, ela gastava três horas entre figurinos, cabelos, perucas e maquiagem. “Era uma verdadeira transformação e, quando terminava, nem me reconhecia mais. Só enxergava a Elke”, brinca Gianne. O visual dela foi criado pelo figurinista Fernando Pies.