247 - O Festival de Cannes foi palco neste domingo (18) da estreia de gala de O Agente Secreto, novo longa-metragem de Kleber Mendonça Filho, que participa da competição oficial da 78ª edição do evento. A informação é da revista Veja. Ambientado no Recife de 1977, durante a ditadura militar brasileira, o thriller foi aplaudido de pé por oito minutos, em uma sessão que contou com a presença do cineasta, elenco e jurados do festival, que definem o vencedor da prestigiada Palma de Ouro.

Com forte carga atmosférica, o filme evita mencionar diretamente o regime militar, mas mergulha o espectador em um clima sufocante de medo, vigilância e tensão. A narrativa se desenvolve como uma fusão de memória e pesadelo, inspirada nas recordações de infância do próprio diretor, que tinha nove anos na época retratada. O thriller caminha por entre silêncios, olhares e suspeitas, construindo um retrato sombrio de uma sociedade corroída pela desconfiança, onde todos parecem ter algo a esconder.

Wagner Moura retorna em grande estilo - Protagonizado por Wagner Moura, que retoma os sets brasileiros após projetos internacionais, O Agente Secreto apresenta o ator no papel de Marcelo, um especialista em tecnologia que se refugia no Recife na tentativa de reconstruir a relação com o filho, que vive com os avós. Em sua estadia, ele interage com figuras femininas marcantes como Elza (Maria Fernanda Cândido), Claudia (Hermila Guedes) e Tereza Victoria (Isabél Zuaa), moradoras do mesmo edifício, compondo um mosaico da vida cotidiana no Brasil sob a opressão da ditadura. Marcelo é alvo de perseguição, mas logo o público percebe que os segredos não são privilégio de um só — cada personagem carrega suas próprias sombras.

Mais do que um thriller político, o longa é uma meditação sobre o trauma coletivo e a persistência da memória. A repressão retratada, embora situada nos anos 1970, continua a reverberar nas estruturas sociais brasileiras. Nesse sentido, o filme dialoga com obras como Ainda Estou Aqui, reforçando o papel fundamental do cinema na preservação da memória histórica e na denúncia de períodos autoritários.

Momento de ouro do cinema nacional - A seleção de O Agente Secreto para a principal mostra de Cannes reforça o prestígio crescente de Kleber Mendonça Filho no cenário internacional e simboliza o atual vigor do cinema brasileiro. Em 2024, o Brasil já havia sido representado na competição por Motel Destino, de Karim Aïnouz. O longa Ainda Estou Aqui conquistou o prêmio de melhor roteiro no Festival de Veneza, além de troféus internacionais, como um Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, e um inédito Globo de Ouro de melhor atriz para Fernanda Torres. O país também brilhou com Manas, de Marianna Brennand, vencedor da Giornate degli Autori em Veneza, e O Último Azul, de Gabriel Mascaro, laureado com o Grande Prêmio do Júri em Berlim.

Maria Fernanda Cândido expressou à Veja o sentimento de representar o Brasil com uma obra tão significativa: “eu estou sentindo muito orgulho de poder mostrar esse filme que é tão brasileiro, tão nosso, para esse público aqui do Festival de Cannes”. Ela ainda destacou o momento simbólico vivido pelo cinema nacional: “além de tudo, é o Ano do Brasil na França”.

Já Gabriel Leone, que também integra o elenco, comentou a emoção de participar pela primeira vez do festival com uma produção brasileira: “é muito especial para mim e também por ser um ano de um momento tão bonito depois de Ainda Estou Aqui, um ano em que o Brasil está sendo homenageado também, estar com esse filme incrível me deixa muito feliz".