Interação entre as protagonista Mila Kunis e Kate McKinnon salva o filme

Lá pela terceira ou quarta sequência de ação mirabolante de “Missão: Impossível – Efeito Fallout”, você (não sem alguma razão) pode ter começado a achar que o filme era um dos longas de espionagem mais absurdos e ridículos que já tinha visto na vida. Isso porque “Meu Ex É um Espião” ainda não tinha estreado nos cinemas.

O longa, que chega nesta quinta-feira (23) às salas, tem uma das tramas mais estapafúrdias e inverossímeis dos últimos anos. Mas a diretora Susanna Fogel não está muito preocupada com isso porque o que interessa a ela é usar o “roteiro” como desculpa para as palhaçadas e a química de Mila Kunis e Kate McKinnon. E verdade seja dita: a energia das duas é o que carrega a produção, e quem for fã da ex-estrela do “That 70’s Show” e da atual melhor integrante do “Saturday Night Live” deve se divertir.

A trama segue Audrey (Mila), que, depois de levar um pé na bunda do namorado Drew (Justin Theroux) via mensagem de texto, descobre que o ex é um espião da CIA. Como se isso não bastasse, ele é assassinado na frente dela em sua sala de estar, não sem antes incumbir a protagonista de entregar um troféu com segredos que podem salvar o mundo para um contato seu em Viena, na Áustria. O que coloca Audrey e sua melhor amiga Morgan (Kate) numa aventura internacional, perseguidas por bandidos e pelo agente do MI-6 Sebastian (o bonitão Sam Heughan, de “Outlander”).

Acreditar que uma caixa de supermercado sem muito rumo na vida como a protagonista poderia facilmente despistar as principais agências de inteligência do mundo, voar para o outro lado do Atlântico e escapar de todas as trapalhadas do roteiro é difícil, mas o carisma e as habilidades cômicas e de ação de Mila ajudam o espectador a embarcar na viagem. O grande trunfo de “Meu Ex”, porém, é Kate.

A comediante aborda cada fala como quem não está levando nada daquilo ali a sério, e traz, para todas as cenas, uma energia que faz o espectador se esquecer da bobagem que está vendo e ficar rindo das caras e bocas da atriz. A sequência em que ela flerta com Wendy, a chefe do MI-6 vivida por Gillian Anderson (“Arquivo X”), descrevendo-a como “a Beyoncé do governo”, é sem dúvida o melhor momento do filme.

O problema é que, se as duas atrizes dão seu melhor, o mesmo não pode ser dito de Susana. A diretora imprime um timing cômico até decente ao longa, mas peca feio nas cenas de ação. Alguns cortes, como quando Morgan salta em cima de um homem para salvar Audrey e o espectador nunca vê o que acontece em seguida, parecem simplesmente incompletos. Em outro momento, a mesma Morgan se desespera pendurada em um trapézio, com uma vilã pisando em suas mãos, quando ela poderia simplesmente deixar o corpo cair na rede logo abaixo dela.

Isso, somado aos buracos maiores do roteiro, sobre viagens internacionais e o próprio conteúdo do troféu, torna impossível levar “Meu Ex” minimamente a sério. O filme ganha pontos por uma certa consciência feminista – com duas protagonistas que, de uma forma ou de outra, conseguem se virar e não precisam ser salvas pelos bonitões do elenco. Mas derrapa em uma reviravolta tremendamente previsível no final, que deixa claro como o roteiro desperdiça uma premissa inusitada com clichês óbvios. No final, o longa funciona como uma canção-chiclete da dupla Icona Pop: divertida e empoderada se você desligar o cérebro, mas esquecível três minutos depois.