Um dos poucos pesquisadores e críticos de cinema no Brasil especializados na produção negra, Heitor Augusto espera desmistificar durante a programação do 20º Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte que se inicia amanhã, a ideia de que um ou dois filmes são suficientes para chegar à compreensão total da experiência racial.
“Existe uma série de coisas que nos individualiza, que nos torna sujeitos para além das grandes classificações de raça e nacionalidade. A diversidade de sujeitos é muito grande”, observa o jornalista, responsável pela curadoria de cinco programas dentro da mostra “Cinema Negro: Capítulos de uma História Fragmentada”.
Os 25 curtas-metragens que compõem a mostra são um bom indicador dessa multiplicidade, divididos nos temas Família, Genocídio, Raízes, Diáspora e Corpo. “A composição representou um grande desafio para mim. Temos um universo de filmes muito grande, especialmente na última década, que é bem diversa”, afirma.
Augusto buscou criar, como curador, uma intertextualidade entre os filmes, objetivando fazer com que cada espectador saísse da sala do Cine Humberto Mauro do Palácio das Artes, palco das exibições, tanto com uma impressão individual em relação ao que acabou de ver, quanto com um sentimento coletivo sobre cada programa.
Apesar do volume da produção ser maior nos últimos três anos, Augusto equilibrou a programação com obras mais antigas, “não só por respeito e carinho, como também para sublinhar que essa ideia não é de agora, que o cinema negro não começou ontem. O que temos hoje é uma escuta maior para essa discussão”, acredita.
Diáspora
O curador ressalta a importância de se fazer um diálogo entre a mostra “Cinema Negro” e as outras duas dedicadas a cineastas negras estrangeiras – a ganesa-americana Akosua Adoma Owusu e a senegalesa Safi Faye. “É interessante instigar esses pontos de comunicação, como a questão da diáspora, pois temos a relação do brasileiro com a África, de uma africana nos Estados Unidos e de uma senegalesa que vive na África”.
Augusto também realizará, no FestCurtasBH, o seminário “O negro e o cinema brasileiro: Representação e Representatividade, Presenças e Ausências”, em que ele focará a representação negra ao longo da história do cinema brasileiro. “O seminário é mais amplo, investigando a presença e a qualidade desta representação, desde a Belle Époque, no começo do século XX, aos dias de hoje.
Além do olhar para o cinema negro, o festival exibirá, até o dia 19, as já tradicionais Mostras Competitivas Minas, Brasileira e Internacional, que trazem produções recentes nacionais e estrangeiras, e várias mostras paralelas. Haverá ainda a oficina “Filme como arte colaborativa – Oficina híbrida de mídia e performance”, da realizadora americana Lynne Sachs.
SERVIÇO
FestCurtasBH – De amanhã até o dia 19 de agosto, no Cine Humberto Mauro, no Palácio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1577). Entrada franca.