12ª edição da mostra tenta promover a aproximação entre a produção de Belo Horizonte e a de países vizinhos

Buscando estreitar e reconhecer similaridades entre os modus operandi cinematográficos latino-americanos, a 12ª Mostra CineBH abre sua programação nesta terça (28) à noite, no Cine Theatro Brasil, com o filme “Sol Alegria”. “Existe um cinema que podemos chamar de ‘latino’, com características peculiares, principalmente em sua produção. Juntamos filmes de realizadores do México, do Brasil, da Argentina e do Chile. Escolhemos a temática a partir da observação de cinco anos para cá. Assim chegamos ao eixo de pontes latino-americanas”, pontua Raquel Hallak, coordenadora geral do festival.

O tema central da mostra, “Pontes latino-americanas”, foi definido pelo trio de curadores Francis Vogner dos Reis, Pedro Butcher e Marcelo Miranda. Não à toa, a mostra homenageia a produtora argentina El Pampero. Fundada em 2002 por Mariano Llinás, Laura Citarella, Agustín Mendilaharzu e Alejo Moguilansky, a produtora independente se consolidou, propondo novos modelos de realização.

Além de diálogos existentes entre realizadores e produtores, a mostra CineBH oferecerá ao público a oportunidade de conhecer filmes basilares e experimentais na cinematografia de cada país, com uma mostra retrospectiva, “Diálogos Históricos”, situada nos anos 60 e 70. “Os filmes vêm de países que passaram por contextos sociais, políticos e econômicos muito parecidos, em meio às ditaduras militares que marcaram a América Latina nesse período”, destaca Raquel.

Em seis dias de programação gratuita, a mostra vai exibir 75 filmes nacionais e internacionais, em pré-estreias e retrospectivas, e 44 sessões de cinema. Serão títulos de 13 Estados brasileiros e 13 países. Entre eles, o filme argentino “La Flor”, dirigido por Llínás, que tem 14 horas de duração e será exibido em três sessões distintas.

Outro ponto destacado pela coordenadora da mostra CineBH é o núcleo temático “Cidade em Movimento”, com curadoria de Paula Kimo, no Sesc Palladium.

“É um recorte da programação, com 16 filmes, feitos por cineastas e amadores. É um olhar sobre Belo Horizonte e região metropolitana, que traz à tona questões sociais pertinentes à cidade atual e seus movimentos coletivos”, pontua. Além disso, depois de cada sessão, haverá um debate sobre as temáticas abordadas nos filmes exibidos.

Já o “Clássicos na Praça” contará, em sessões ao ar livre, com retrospectiva de filmes que fazem aniversário e seguem chamando a atenção do público. É o caso de “Corra que a Polícia Vem Aí” (1988), “Superman” (1978), “Os Embalos de Sábado à Noite” (1977) e “Yellow Submarine” (1968). Todos serão exibidos na praça Duque de Caxias, no Santa Tereza.

Distopia. O terceiro longa de Tavinho Teixeira abre nesta terça-feira a programação da mostra. Trata-se de uma ambiciosa ficção científica lo-fi, que aborda uma família nada convencional em seu périplo pelas estradas de um país dominado por uma junta militar e pastores corruptos. A luta pela liberdade é o que parece mover a obra de Teixeira. No elenco está o cantor Ney Matogrosso, que encarna um dos personagens da trama.

Mariah Teixeira, assistente de direção e filha do cineasta, destaca que o caráter distópico do filme se aproxima (assustadoramente) da realidade vivida hoje no Brasil, especialmente em um ano de eleições majoritárias. “Trata-se de uma obra completamente atual, no que diz respeito ao contexto social”, pontua Mariah.

De Belo Horizonte para o mundo

Integra também a programação da 12ª Mostra CineBH o Brasil CineMundi, voltado para o mercado do cinema brasileiro realizado no país. “Num contexto em que o Estado não tem uma produção de cinema tão forte como Rio ou São Paulo, a mostra CineMundi se transformou em uma alternativa para realizadores e produtores da cidade. Nosso objetivo é enfocar o mercado, com o viés da coprodução para o cinema independente. Ou seja, pensar em parcerias entre mais países para conseguir produzir”, destaca Raquel Hallak, coordenadora da Mostra CineBH.

Na Mostra CineMundi, serão exibidos dois longas nacionais que participaram de edições anteriores e conseguiram realizar seus projetos em coproduções internacionais: “Ferrugem”, de Aly Muritiba, e “Benzinho”, de Gustavo Pizzi.

“CineMundi é uma das plataformas mais incríveis, um suporte de coprodução. Os profissionais que vêm são muito bons, estão dentro do mercado internacional e são muito importantes”, destaca Gustavo Pizzi, cujo filme foi coproduzido no Uruguai. O longa – que estreou em circuito comercial em algumas cidades na última semana – venceu quatro Kikitos no Festival de Gramado, que encerrou sua edição 2018 no último sábado. Entre eles, o de melhor filme para a crítica e o júri popular. E de melhor atriz para Karine Telles e melhor atriz coadjuvante para Adriana Esteves.

Agora, o filme chegará a Belo Horizonte, onde, de certa maneira, fecha seu ciclo. “É incrível poder voltar a Belo Horizonte com o filme finalizado. É como se suas ideias, que você passou anos elaborando, ganhassem vida. Quando a gente está tentando emplacar um projeto, é sempre complicado, por melhor que você apresente suas propostas, fazer com que as pessoas vejam com seu olhos”, diz.

Agenda

O quê. “Sol Alegria”

Quando. Terça (28), às 20h

Onde. Cine Theatro Brasil (av. Amazonas, 315, centro)

Quanto. Gratuito (retirada de ingressos 30 minutos antes de cada sessão)

*Na página da mostra é possível se inscrever nas atividades e acompanhar a programação: www.cinebh.com.br