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“Era outubro, novembro e Brumadinho ainda estava muito traumatizada pela tragédia. O movimento de pessoas e veículos era brutal e o ambiente estava muito pesado”, lembra o cineasta, que soube tirar proveito desse trauma em benefício da narrativa, contrastando a cidade com Inhotim, maior museu a céu aberto do mundo.
“Fazer esse contraste do ferro, do minério e da sujeira com aquele jardim do Éden foi maravilhoso”, destaca Rezende, que, originalmente, usaria os campos floridos da Holanda como cenário. “A história se passava na Europa, o que tornava o filme caro. Depois adaptei para o Brasil e logo me veio esse ícone da cultura brasileira que é Inhotim”, assinala.
Em cartaz no Cine Belas Artes, o longa é o primeiro trabalho de ficção a ser realizado no espaço. As obras de arte não aparecem em nenhum momento, já que a produção precisaria pagar cada artista por direitos autorais. Já o Jardim Botânico, sob responsabilidade do paisagista Pedro Nehring, surge em todo o seu esplendor.
A paixão pela beleza e significado das plantas é expressa por Mariana, personagem de Andréia Horta. Casada com João (Gustavo Vaz), os dois sonham com o primeiro filho, mas esbarram na esterilidade do marido. “Alguns amigos, quando descobriram que não podiam ter filhos, passaram por um sentimento de impotência, de não serem plenos”.
Brutalidade
Os altos e baixos experimentados pelo casal têm equivalência na própria Natureza. “A Natureza é bruta mesmo. Às vezes, a gente acha que é só suavidade, mas não é. Veja a destruição provocada por um vulcão nas Ilhas Canárias. Essa força da Natureza temos que aceitar. O que é inaceitável é nós, humanos, contribuir para a destruição dela”, registra.
Em determinada cena, Mariana chama a atenção, durante uma palestra, da maneira explícita como as flores se reproduzem. Logo depois, ela se excita ao ver imagens das mesmas. “Na Natureza, as flores exibem seus órgãos sexuais sem nenhum pudor. Já na nossa sociedade, há essa vergonha em mostrarmos, preferindo escondê-los”.
Essa estreita relação com a Natureza explica muitas das escolhas da personagem de Andréia Horta, que insiste na possibilidade de ter um filho sem precisar recorrer à adoção. “Aquilo é fonte de vida e ela não abre mão em poder passar pela experiência da gravidez, de ver a barriga crescer, do parto”, salienta o cineasta.
O cinema é o grande jardim do diretor Sergio Rezende
No jardim cinematográfico de Sergio Rezende, “O Jardim Secreto de Mariana” tem o mesmo papel de um pequena roseira, em que você “pode ver as flores diante de seus olhos”. Enquanto os filmes históricos que realizou em quase 30 anos de carreira têm a grandeza de uma palmeira imperial.
“O cinema é realmente meu jardim”, afirma Rezende, valendo-se do título de um documentário que dirigiu em 2004, em que aborda o paraíso e sua relação com a arte cinematográfica. “O prazer da jardinagem é cultivar. E o cinema não é diferente, cultivando principalmente o amor”, destaca.
“Tenho o mesmo prazer em fazer um filme como ‘A Guerra de Canudos’, que reunia mil figurantes em cada dia de filmagem, e uma produção que não levou três semanas para fazer, com uma equipe muito pequena, como aconteceu em ‘O Jardim Secreto de Mariana’”, compara Rezende.
Com obras que não se esquivam de comentários políticos, o cineasta salienta que o mais recente filme faz esse papel, mas a partir do avesso. “O mundo está de tal maneira brutalizado que proponho um outro tipo de conversa. Gostaria que as pessoas vissem esse filme como um passeio no jardim”, destaca.
Não precisa ser o Jardim Botânico de Inhotim, mas “um lugar em que você entre e tenha um contato mais profundo não só com a Natureza, mas com você também. Quero propor um pouco de sossego e paz, um pensamento mais sereno sobre a verdade”, registra Rezende, que tem um DNA mineiro.
“Minha mãe é de Leopoldina e meu pai, de Andrelândia. Mãe era apaixonada por platantas e cultivava os jardins dela. Meu pai tinha muitas terras. Eram o avesso um do outro. O jardim é controlado, sensível e colorido. Já o campo é outra maneira de ver a Natureza, sem muito controle”, compara.
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“Era outubro, novembro e Brumadinho ainda estava muito traumatizada pela tragédia. O movimento de pessoas e veículos era brutal e o ambiente estava muito pesado”, lembra o cineasta, que soube tirar proveito desse trauma em benefício da narrativa, contrastando a cidade com Inhotim, maior museu a céu aberto do mundo.
“Fazer esse contraste do ferro, do minério e da sujeira com aquele jardim do Éden foi maravilhoso”, destaca Rezende, que, originalmente, usaria os campos floridos da Holanda como cenário. “A história se passava na Europa, o que tornava o filme caro. Depois adaptei para o Brasil e logo me veio esse ícone da cultura brasileira que é Inhotim”, assinala.
Em cartaz no Cine Belas Artes, o longa é o primeiro trabalho de ficção a ser realizado no espaço. As obras de arte não aparecem em nenhum momento, já que a produção precisaria pagar cada artista por direitos autorais. Já o Jardim Botânico, sob responsabilidade do paisagista Pedro Nehring, surge em todo o seu esplendor.
A paixão pela beleza e significado das plantas é expressa por Mariana, personagem de Andréia Horta. Casada com João (Gustavo Vaz), os dois sonham com o primeiro filho, mas esbarram na esterilidade do marido. “Alguns amigos, quando descobriram que não podiam ter filhos, passaram por um sentimento de impotência, de não serem plenos”.
Brutalidade
Os altos e baixos experimentados pelo casal têm equivalência na própria Natureza. “A Natureza é bruta mesmo. Às vezes, a gente acha que é só suavidade, mas não é. Veja a destruição provocada por um vulcão nas Ilhas Canárias. Essa força da Natureza temos que aceitar. O que é inaceitável é nós, humanos, contribuir para a destruição dela”, registra.
Em determinada cena, Mariana chama a atenção, durante uma palestra, da maneira explícita como as flores se reproduzem. Logo depois, ela se excita ao ver imagens das mesmas. “Na Natureza, as flores exibem seus órgãos sexuais sem nenhum pudor. Já na nossa sociedade, há essa vergonha em mostrarmos, preferindo escondê-los”.
Essa estreita relação com a Natureza explica muitas das escolhas da personagem de Andréia Horta, que insiste na possibilidade de ter um filho sem precisar recorrer à adoção. “Aquilo é fonte de vida e ela não abre mão em poder passar pela experiência da gravidez, de ver a barriga crescer, do parto”, salienta o cineasta.
O cinema é o grande jardim do diretor Sergio Rezende
No jardim cinematográfico de Sergio Rezende, “O Jardim Secreto de Mariana” tem o mesmo papel de um pequena roseira, em que você “pode ver as flores diante de seus olhos”. Enquanto os filmes históricos que realizou em quase 30 anos de carreira têm a grandeza de uma palmeira imperial.
“O cinema é realmente meu jardim”, afirma Rezende, valendo-se do título de um documentário que dirigiu em 2004, em que aborda o paraíso e sua relação com a arte cinematográfica. “O prazer da jardinagem é cultivar. E o cinema não é diferente, cultivando principalmente o amor”, destaca.
“Tenho o mesmo prazer em fazer um filme como ‘A Guerra de Canudos’, que reunia mil figurantes em cada dia de filmagem, e uma produção que não levou três semanas para fazer, com uma equipe muito pequena, como aconteceu em ‘O Jardim Secreto de Mariana’”, compara Rezende.
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Não precisa ser o Jardim Botânico de Inhotim, mas “um lugar em que você entre e tenha um contato mais profundo não só com a Natureza, mas com você também. Quero propor um pouco de sossego e paz, um pensamento mais sereno sobre a verdade”, registra Rezende, que tem um DNA mineiro.
“Minha mãe é de Leopoldina e meu pai, de Andrelândia. Mãe era apaixonada por platantas e cultivava os jardins dela. Meu pai tinha muitas terras. Eram o avesso um do outro. O jardim é controlado, sensível e colorido. Já o campo é outra maneira de ver a Natureza, sem muito controle”, compara.