Desde o lançamento de Os caçadores da arca perdida, em 1981, o espírito de aventura no cinema se tornou praticamente indissociável do chapéu, do chicote e da trilha sonora composta por John Williams, numa de suas colaborações mais marcantes com Steven Spielberg. No momento em que Harrison Ford entra num templo perdido na floresta no Peru para pegar um ídolo de ouro, passando por cobras e driblando rochas rolando, a cultura popular já tinha absorvido Indiana Jones para dentro de suas veias e nelas ele permanece até hoje. 
 
As continuações O templo da perdição e A última cruzada expandiram possibilidades do universo fantástico do personagem e trouxeram adições de elenco memoráveis (sobretudo Ke Huy Quan e Sean Connery), que exploravam distintas formas de interação do protagonista e do seu cínico e ao mesmo tempo leve senso de humor. Já o quarto filme, O reino da caveira de cristal, lançado 19 anos após o terceiro, falhou em corresponder às expectativas criadas pelo retorno do personagem não apenas devido ao excesso de computação gráfica, que tirava o brilho dos efeitos práticos e das locações reais, mas por não encontrar parcerias carismáticas suficientes para o herói.

Agora, 15 anos depois, Harrison Ford volta para sua despedida da franquia com Indiana Jones e a relíquia do destino, em cartaz, que melhora a impressão deixada pelo capítulo anterior – apesar de compartilhar de problemas similares. Na trama, ambientada em 1969, Indiana está para se aposentar das aulas quando descobre que um artefato poderoso que esteve em suas mãos durante a Segunda Guerra pode cair em mãos erradas e, portanto, se une à afilhada Helena (Phoebe Waller-Bridge) para impedir.
 
Sem Spielberg por trás das câmeras pela primeira vez na série, a direção de James Mangold (Logan e Ford vs Ferrari), não exatamente reconhecido como autor, mas cuja competência na execução de ação se faz notar tanto em trabalhos prévios quanto agora. Com tom nostálgico, ainda que dinâmico, A relíquia do destino lida bem com o envelhecimento de Indiana e a disposição impressionante do ator (prestes a completar 81 anos) vende perfeitamente a coragem e carisma que fizeram seu nome.
 
Não obstante, a saga demonstra novamente dificuldade em achar parcerias de liga firme com o protagonista. Phoebe Waller-Bridge tem presença forte, mas sua energia ecoa bem mais o humor britânico contemporâneo pelo qual ela ficou famosa do que o universo de Indiana. Com todos os admiráveis esforços, então, ela soa deslocada. Mads Mikklesen, no papel do vilão nazista, acaba tendo o problema oposto: com tantos personagens semelhantes no currículo – alguns bastante recentes –, seu desempenho aqui parece automático e demasiadamente reconhecível. Outras aparições de grandes atores são tão mal justificadas que mal encontram espaço para registro, ao exemplo de Antonio Banderas, que entra em cena com a mesma rapidez que desaparece.

 Disfarçando a falta de inventividade visual com ritmo ágil e sequências bem humoradas de perseguição, James Mangold não consegue esconder a iluminação sem graça da primeira e da última sequência, cujo fundo verde é notável e a imagem, desnecessariamente lavada. Inegavelmente, ao menos, ele se mantém respeitoso ao cânone e à iconografia de Indiana Jones, amarra pontas de outros filmes da maneira mais prática e não tenta dar passos maiores que suas pernas. 
 
No ranger de irregularidades e limitações de A relíquia do destino, quem sempre encontra seu chapéu e dá um jeito de mantê-lo preso à cabeça, não importa como, é Harrison Ford. E, no processo, segura todo mundo junto com ele.