Jovem ator desbancou nomes como Bradley Cooper, Willem Dafoe, Lucas Hedges, John David Washington
“Meu coração está quase saindo pelo meu peito agora. Estou absolutamente agradecido de estar neste lugar com todos vocês. Tenho de agradecer a todos que trabalharam neste filme e a família que ganhei com esses atores. É tudo absolutamente incrível. Eu estou muito, muito satisfeito de estar entre vocês”. O discurso emocionado ao ganhar o prêmio de melhor ator de drama na edição 2019 do Globo de Ouro esconde algo que Rami Malek talvez nunca pudesse imaginar: se tornar o novo queridinho do cinema ocidental.
Ao desbancar Bradley Cooper (Nasce uma estrela), Willem Dafoe (No portal da eternidade), Lucas Hedges (Boy erased: Uma verdade anulada) e John David Washington (Infiltrado na Klan), o ator norte-americano de origem egípcia mostrou que não é apenas o “cara de olhos esbugalhados” e, ao protagonizar Freddie Mercury, um dos maiores astros da história da música pop, Malek voou para um patamar que vai além dos rostos masculinos caucasianos e conhecidos da indústria de cinema norte-americana.
“Eu estava muito ciente do trabalho que seria necessário para chegar perto de se tornar Freddy Mercury. Eu voei para Londres e me coloquei de pé e comecei a martelar. Fiz aulas de piano e trabalhei com um treinador de movimento e aulas de canto – tudo o que eu poderia fazer para tentar entendê-lo”. Mas Malek foi modesto ao contar ao portal E! News alguns dos passos para chegar ao Freddie premiado.
Foto: AFP Photo |
Seguindo a porção introvertida que faz parte da personalidade do ator, talvez seria um pouco desconfortável comentar a audição de seis horas que fez antes mesmo do projeto ter ganhado o financiamento de um estúdio, ou os meses a fio que passou com uma dentição extra entre as gravações da série Mr. Robot (que estrela pelo canal USA) para se acostumar a falar como o líder do Queen. Ou até mesmo a demissão de Bryan Singer, que saiu da direção de Bohemian Rhapsody no meio das filmagens (ao portal BBC, Malek admitiu “diferenças criativas” com o diretor). Para merecer o título de grande artista, o homem de 37 anos fez o que precisava: deixar tudo que não fosse Freddie para trás.
De Crepúsculo ao Oscar
Filho de pais egípcios (um guia turístico e uma contadora), Malek trilhou um caminho bem diferente do irmão gêmeo— que atualmente é professor. Desde o ensino médio, realizado na cidade de Los Angeles, o ator optava por aulas de cênicas, mas a chegada à tevê de fato só se deu a partir de 2004, quando começou a ganhar pequenos papéis em séries populares, como Gilmore Girls. No cinema, o primeiro papel de destaque chegou ao interpretar um faraó na saga Uma noite no museu. Ao mesmo tento em que ganhava mais espaço em produções das telinhas (como a minissérie The pacific), Malek também estrelava em Crepúsculo, na última produção da saga.
O ator ganhou os olhos da crítica, entretanto, ao estrelar a pequena e ousada série Mr. Robot, em 2015. De forma brilhante, Malek deu vida a um verdadeiro “ícone do underground” ao interpretar a vida de Elliot, um jovem viciado em morfina que alterna entre um hacker herói/anti-herói salvador — ou destruidor — de um futuro cyberpunk amaldiçoado pela tecnologia. “Eu interpreto um jovem que eu acho que é, como muitos de nós, profundamente alienado. E a coisa mais infeliz que sinto em relação a ele é que eu não sei quantos de nós iríamos querer sair com um cara como Elliot”, resumiu Malek, no púlpito do Emmy,ainda em 2016.
Foto: Reprodução/Internet |
A estreia do protagonismo na série lhe rendeu o primeiro grande prêmio da carreira: o Emmy de melhor ator em série dramática ainda em 2016, derrubando nomes titânicos da tevê norte-americana, como —o agora persona non grata — Kevin Spacey (por House of cards) e Bob Odenkirk (por Better call Saul).
Malek e o astro
Diferentemente de outros grandes atores da geração de Malek, chama a atenção o quanto o intérprete de Freddie Mercury busca o caminho do anonimato fora das telas. O último post no Twitter de Malek data ainda de novembro de 2018 (e para celebrar o trabalho de pintura de Carly Chaikin, colega de elenco em Mr. Robot). No Instagram, o ator tem quase 2 milhões de seguidores para acompanhar apenas três fotos (duas com o apresentador Stephen Colbert, em 2016 e 2017, e outra com a apresentadora Ellen DeGeneres, em 2018).
A aversão à fama – ironicamente – lhe trouxe mais fama. Em um vídeo, que viralizou ainda em outubro do ano passado, Malek é reconhecido do meio de Nova York por um popular. O diálogo dá o tom cômico da coisa: “Posso gravar um vídeo com você?”, pergunta o fã quase histérico, que é surpreendido por um lacônico “Não, mas podemos tirar uma foto, que tal?”, de Malek.
Mais tarde, ao portal Vanity Fair, o ator se explicou: “Eu fico feliz de tirar fotos com os fãs. Eu só quero ter a consciência do que a pessoa está fazendo naquele momento. Quando alguém te filma de uma forma automática, pode ser um pouco invasivo”. Talvez o ator nem saiba da existência de Machado de Assis, mas já faz jus a teoria que o autor elaborou ainda em 1900 para explicar a atraente Capitu: “E tem o tamanho dos meus olhos. Talvez eles digam ‘Oi!’ de uma forma muito fácil para as outras pessoas”.
Foto: Kevin Winter/AFP Photo |
Na noite do último domingo, ao jornal USA Today, Malek ponderou sobre o futuro: “Há aspectos que me levarão a me acostumar com algo que eu não sei se posso me acostumar. Eu aprecio uma certa sensação de solidão e anonimato que vou tentar manter. Mas sei que isso provavelmente se tornará um pouco mais difícil a partir de hoje”.
Para o futuro, Malek se dedica a quarta e última temporada de Mr. Robot, prevista para estrear ainda no segundo semestre de 2019. O ator também trabalha nas dublagens dos animais da nova versão de Dr. Dolittle, ainda sem data para lançamento.
Destaques de Malek
• Andy em Gilmore Girls (2004)
• Farao Ahkmenrah em Uma noite no museu (2006, 2009 e 2014)
• Marcos Al-Zacar na série 24 horas (2010)
• Snafu, na minissérie The pacific (2010)
• Foi a voz de Tahno, na animação Avatar: a lenda de Korra (2012)
• Benjamin, no filme A saga Crepúsculo: Amanhecer — parte 2 (em 2012)
• Finn, no filme Need for speed (em 2014)
• Foi a voz de Flip McVicker na animação BoJack Horseman (desde 2017)
• Lous Dega na refilmagem de Papillon (em 2017)