O regente do bloco "A Roda", Pedro Thiago Silva, foi à página do Instagram do grupo para relatar um "clima péssimo" com a Polícia Militar às vésperas do encerramento do cortejo na noite dessa quinta-feira (20), na rua Sapucaí, na região Centro-Sul de Belo Horizonte. Foliões que seguiram o bloco também comentaram nas redes sociais certa sensação de hostilidade após a chegada dos policiais.

Os militares, segundo relatos, chegaram ao cortejo restando alguns minutos ainda para o encerramento e cercaram o trio elétrico, com armas para dispersão em mãos. "Polícia em peso no cortejo da A Roda! Acabou o Carnaval de BH", publicou uma internauta. Outro, escreveu: "Bloco de Carnaval com toque de recolher (...). É... Não sei se é BH zicada ou se é o governo dando as caras". 

Com mais detalhes, o regente do bloco Pedro Thiago agradeceu nas redes sociais a todos os apoiadores do grupo. Às vésperas do cortejo, integrantes da bateria e organizadores precisaram se reunir para arrecadar a quantia necessária ao aluguel de um novo trio elétrico – o carro que seria usado pelo bloco de Carnaval está entre os dois apreendidos após determinação das forças de segurança e órgão de trânsito, no último domingo (16).

Ainda nessa quarta-feira (19), conseguiram contratar um novo carro de som, mas, as dimensões do novo veículo (altura e largura) obrigaram a alterações no trajeto do cortejo: se antes oito quarteirões seriam percorridos entre avenida do Contorno e rua Sapucaí, o desfile acabou reduzido a apenas dois, na própria rua Sapucaí.

Com poucos minutos para o encerramento da folia, os militares apareceram, como explica o regente: "Lamento profundamente encerrar o cortejo de Carnaval, de alegria, de festa, dessa forma, com policiais armados cercando o trio. É uma discrepância gigante, são pessoas armadas e outras pessoas felizes, fantasiadas. Foi assim que a gente encerrou o cortejo".  

Resposta

Questionada, a Polícia Militar de Minas Gerais esclareceu que o posicionamento dos militares não tem relação com "manifestação política". Segundo a corporação, "a atuação dos militares foi para garantir a segurança do bloco para o desligamento do som no horário previsto, às 22h", pontuou. 

"A PMMG esclarece ainda que as manifestações são legítimas e que só atuará em caso de desordem pública, de intolerância à multiplicidade, em casos de qualquer tipo de violência ou importunações", conclui a nota (leia abaixo na íntegra). 

Situação complicada

"O clima está péssimo. Não foi legal. Não sei se vai dar para continuar desse jeito", concluiu. A situação dos blocos tornou-se complicada logo às vésperas do Carnaval, quando dois carros acabaram apreendidos após os desfiles de "Asa de Banana" e "Me Beija Que Eu Sou Pagodeiro", que ocorreram no último domingo (16). Com a apreensão dos carros, inúmeros blocos que usariam esses mesmos caminhões de som precisam encontrar soluções às pressas. Se por um lado alguns conseguiram, por outro, blocos importantes de BH estudam a possibilidade de cancelamento do festejo.

O "Juventude Bronzeada", um dos mais importantes da cidade, anunciou o cancelamento de seu cortejo. "Trabalhamos para regularizar nosso cortejo de acordo com os parâmetros exigidos pela Belotur, pelo Corpo de Bombeiros e BHTrans. Entretanto, a Polícia Militar de MG não foi em nenhuma reunião. Sabemos que a documentação do carro de som está em desacordo, mas ela atesta exatamente o que a PM alega precisar", escreveram integrantes do grupo em nota publicada nas redes sociais. 

Reunião com Detran

O Departamento Estadual de Trânsito de Minas Gerais (Detran-MG) afirmou, após reunião na tarde dessa quinta-feira (20), que manterá o veto aos carros de som que não apresentarem a documentação necessária para desfilar no Carnaval de BH. 

A Polícia Militar de Minas Gerais também participou da reunião e afirmou que fará cumprir a determinação e não permitirá que carros de som sem documentação necessária desfilem no carnaval. 

(com Bruno Menezes)

Nota da Polícia Militar na íntegra:

A Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) esclarece que o posicionamento dos policiais militares próximo ao final do horário de término de desfile do bloco A Roda, ocorrido na noite dessa quinta-feira (20.02) na Rua Sapucaí, no bairro Floresta, não teve relação com manifestação política. A atuação dos militares foi para garantir a segurança do bloco para o desligamento do som no horário previsto, às 22h.

Conforme relatado em matéria jornalística por uma das integrantes do bloco, havia a intenção de ultrapassar o horário permitido para o cortejo em virtude do atraso para início das atividades. A Polícia Militar esclarece que os horários precisam ser respeitados já que todos os serviços públicos se planejam para cumprí-los. O atraso no encerramento pode ensejar deficiência na prestação de serviço dos vários órgãos envolvidos.

A PMMG esclarece ainda que as manifestações são legítimas e que só atuará em caso de desordem pública, de intolerância à multiplicidade, em casos de qualquer tipo de violência ou importunações.