PERIGO

Um estudo inédito da Fundação Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) detectou contaminação por cocaína em espécies de tubarão da costa brasileira. Também foi encontrada a presença do metabólito da droga, a benzoilecgonia. Esse dado, segundo o IOC, chama a atenção pela quantidade de cocaína consumida no Rio de Janeiro e descartada no mar por meio do sistema de esgoto.

Conduzido pelo Laboratório de Avaliação e Promoção da Saúde Ambiental da Fundação, o estudo identificou a presença das substâncias em 13 animais da espécie Rhizoprionodon lalandii, popularmente conhecida como “tubarão-bico-fino-brasileiro", "cação rola-rola" ou “cação-frango”. Os resultados foram publicados na revista científica Science of The Total Environment no início de julho deste ano. 

“No Brasil, estudos já detectaram a contaminação de água e alguns poucos seres aquáticos por cocaína, como mexilhões. Nossa análise é a primeira a encontrar a substância em tubarões”, descreveu o farmacêutico Enrico Mendes Saggioro, um dos pesquisadores do achado, juntamente com a bióloga Rachel Ann Hauser-Davis, ambos do Laboratório de Avaliação e Promoção da Saúde Ambiental do IOC.

A benzoilecgonina, composto químico resultado da metabolização da cocaína no organismo, foi encontrada em 12 destes tubarões. As coletas foram feitas no bairro do Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste da capital carioca, entre setembro de 2021 e agosto de 2023. 

A bióloga Rachel Ann Hauser-Davis, também atuante no Laboratório de Avaliação e Promoção da Saúde Ambiental do IOC, destacou a importância dos tubarões no ecossistema marinho e explicou porque a presença da droga nessa espécie é tão significativa. Por serem predadores, os tubarões são protagonistas na cadeia alimentar, sendo espécies vigilantes para detecção de danos ambientais e contaminações variadas.

Dado alarmante para cientistas

A ideia de pesquisar a presença de cocaína nos animais partiu de um relatório mundial publicado pelo escritório das Nações Unidas para drogas e crime (UNODC, na sigla em inglês), em 2024. Esse documento coloca o Brasil entre os maiores consumidores globais dessa droga.

A partir dos estudos, os pesquisadores acreditam que a principal maneira que a droga chega no mar é pelo descarte de resíduos dela no esgoto, lançado no mar.

“É necessário realizar estudos específicos para determinar as consequências exatas dessa contaminação nos animais. Acredita-se que pode haver impacto no crescimento, na maturação e, potencialmente, na fecundidade dos tubarões, uma vez que o fígado atua no desenvolvimento de embriões”, comentou a bióloga.