Brasil está longe da recomendação da Organização Mundial da Saúde de prevalência de 90% do aleitamento materno exclusivo até os seis meses de idade
Como parte das ações do Agosto Dourado, mês dedicado à promoção do aleitamento materno, a Sociedade de Pediatria do Rio de Janeiro (Soperj) promoveu hoje (11) um “mamaço” nos jardins do Palácio do Catete, na zona sul do Rio.
Além do encontro de mães amamentando em ambiente público, houve atividades lúdicas para crianças e roda de conversa com profissionais de saúde. A presidente do Comitê de Aleitamento Materno da Soperj, Carmem Elias, destacou a importância da questão no país, já que o Brasil está longe da recomendação da Organização Mundial da Saúde de prevalência de 90% do aleitamento materno exclusivo até os seis meses de idade.
“Nas décadas de 70 e 80, ninguém aleitava no país, tínhamos média de dias de aleitamento materno. Ainda estamos longe do que gostaríamos, mas avançamos. A última pesquisa é de 2013, no Brasil temos em torno de 36% de prevalência, aumentamos sim e temos que nos orgulhar da prevalência do aleitamento prolongado”.
Segundo Carmem Elias, aumentou o entendimento de que aleitar os seis meses exclusivos e prolongar por dois anos ou mais tem benefícios para o bebê e para a mãe. “Esses benefícios de nós falávamos, hoje temos essa comprovação científica, de que aleitar evitar câncer de mama e de ovário, além de leucemia no bebê. Os comitês científicos das sociedades de pediatria estão buscando na indexação médica artigos de outras áreas sobre aleitamento materno e a relação com adolescentes, com alergias, por exemplo”.
O Mês do Aleitamento Materno foi instituído no ano passado pela Lei Federal 13.435, mas a Semana Mundial do Aleitamento Materno existe desde 1992 e é comemorada de 1º a 7 de agosto em mais de 120 países. O tema deste ano é “Aleitamento materno: a base da vida”.
A estudante de psicologia Érica Gomes, de 27 anos, foi com a filha Teodora, de 5 meses, trocar experiências com outras mães e ouvir as dicas dos profissionais de saúde. Ela informou que faz estágio no Hospital Geral de Bonsucesso, onde a filha nasceu, e teve no local a ajuda necessária para amamentar desde o começo.
“Há uma equipe que ensina a fazer a pega, tive todo o suporte lá com a questão da ordenha. Aprendi lá, quando voltei ao trabalho, depois de um mês e meio. Surgiram algumas questões e fui perguntando, Minha prima estuda enfermagem na Uerj [Universidade do Estado do Rio de Janeiro] e me orientou bastante sobre a ordenha, me mandava material para ler”.
Érica contou que precisou introduzir uma fórmula na alimentação da filha depois dos quatro meses, devido a uma alergia, mas pretende continuar amamentando. “Quando vou trabalhar, há dias em que ela precisa tomar a fórmula, quando estava de quatro para cinco meses ela não ganhou peso, a gente descobriu que teve alergia ao leite, então tive que entrar com a fórmula. Eu queria ter dado amamentação exclusiva até os seis meses, me frustro muito de não ter conseguido, porque eu precisava voltar a trabalhar. Mas, em qualquer lugar, onde eu estiver, se ela quiser eu dou o peito, do jeito dela, no momento dela”.
Bancos de leite
A presidente do Comitê de Aleitamento Materno da Soperj lembrou que o Brasil é referência mundial em bancos de leite e já exportou a tecnologia para países como Portugal, França, Chile, México, que estão absorvendo e replicando o modelo brasileiro, comandado pela Fiocruz, com procedimentos como a análise bacteriológica.
“É um alimento completo, vivo; seu conteúdo, suas propriedades são indiscutíveis, mesmo da própria mãe como por meio dos bancos de leite, da doação. A rede brasileira passou a ser a rede global de bancos de leite, estamos exportando a tecnologia para a América do Sul, América Central, Europa e agora entrando na África. A gente consegue, por meio da doação, manter, a qualidade ouro do leite materno”.
Também dentro da programação do Agosto Dourado, a Soperj fará, no dia 15, o 1º wokshop de Amamentação, no Hotel Atlântico Copacabana, voltado para os profissionais de saúde, com o objetivo de reforçar a necessidade de maior conscientização de toda a sociedade para a importância do aleitamento materno.
De acordo com a médica, o aleitamento reduz em seis vezes o risco de morte por diarreia, previne infecções respiratórias, anemias e alergias, além de fortalecer o sistema imunológico e o vínculo afetivo, reduzindo também a depressão pós-parto nas mães.