Aumento da demanda vai fazer preço da picanha subir na capital mineira; embargo da China não deve causar redução no valor

O embargo da China à carne bovina brasileira não deve causar redução significativa nos preços ao consumidor. Segundo frigoríficos de Belo Horizonte, o aumento da demanda nas festas de fim de ano vai pressionar os valores. A picanha atualmente custa em média R$ 59,81 /kg, segundo levantamento do site Mercado Mineiro – valor que deve aumentar nos próximos meses.

Gerente de um açougue do Mercado Central de Belo Horizonte, Felipe Drummond diz que houve uma pequena queda no preço dos fornecedores, mas essa redução não deve ser repassada.

“A carne de boi diminuiu cerca de R$ 0,50/kg para a gente comprar. Ainda nem mexi no preço, porque não sabemos como isso vai ficar e ainda absorvemos outros aumentos. Mas, com a chegada do fim do ano, apesar do embargo, não vai ter redução de preço para o consumidor sentir, porque o mês de setembro foi um mês muito ruim para o comércio em geral, e novembro e dezembro são os meses de maior demanda”, explica o gerente.

Segundo Drummond, dependendo do corte, o encarecimento pode ser ainda mais severo.

“Para comprar o boi no osso, igual compramos parte das mercadorias, abaixou R$ 0,60 ou R$ 0,80. Mas as carnes que eu compro embaladas, como contrafilé ou filé-mignon, até aumentaram. Não deu para a gente repassar esse valor para o consumidor”, diz.

Responsável por um frigorífico do bairro Floresta, na região Leste, Marcos Santos cita a picanha como exemplo do aumento de preços.

“Fazemos de tudo para repassar qualquer redução do preço, para movimentar o comércio. Estamos comprando mais de R$ 1 mais barato, mas, chegando o fim do ano, não dá para prever, porque aumenta um pouco, abaixa um pouco”, afirma Santos.

Analista econômico da Faculdade Arnaldo, Alexandre Miserani explica que o Brasil tem alternativas para vender a carne no mercado externo.

“A carne é congelável; como sabem que o embargo é algo transitório, não tem perspectiva de abaixar o produto no Brasil. No caso da carne, ela é perfeitamente exportável. Se a China não quer, outros países vão querer. O Brasil é um dos maiores produtores de proteína animal do mundo, e ele prefere vender em dólar do que em real, e sobra para a gente o osso ou a carne do preço que está”, destaca Alexandre Miserani.

A tendência para as festas de fim de ano, com o aumento da demanda típico da época, é que a carne fique ainda mais cara. Para o economista, o Natal de 2021 vai ser o mais pobre das últimas décadas. 

“(A carne) vai ficar mais cara, porque, enquanto o dólar não tiver sido debelado, vamos ver um aumento de preços de commodities e produtos alimentícios em uma ascensão jamais vista nos últimos 30, 40 anos. Vamos ter o Natal mais pobre dos últimos 40 anos”, avalia Miserani.

Suspensão de importação para a China já dura mais de 50 dias
A suspensão de importações de carne bovina brasileira por parte da China começou em 4 de setembro, quando o Brasil confirmou dois casos atípicos do chamado “mal da vaca louca” em duas cabeças de gado no país – uma delas em Belo Horizonte. 

Desde então, o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) vem tentando negociar o fim do bloqueio, alegando que já está comprovado que a carne brasileira representa baixo risco em relação à doença.

“Temos atendido pronta e tempestivamente todos os pedidos de informação que nos são dirigidos. Além disso, encaminhamos solicitação para reunião técnica, ainda não agendada pelas autoridades chinesas, que alegam estar analisando as informações enviadas”, disse o Mapa, em nota. 

O Brasil suspendeu as exportações devido ao protocolo firmado entre os dois países, que determina esse curso de ação no caso de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), o “mal da vaca louca”. No protocolo, não estão definidos os passos para a retomada do comércio. Assim, a decisão cabe exclusivamente à China.