SAÚDE UNIVERSIDADES


Universidades públicas estão retomando estudos e programas de saúde voltados a seus funcionários, especialmente aqueles direcionados à qualidade de vida. O combate às doenças crônicas, como obesidade, diabetes e hipertensão, sempre esteve no centro das atenções, mas ganhou força durante a pandemia com o incremento de casos.


Na UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), metade dos cerca de 7.000 servidores estão com algum grau de sobrepeso e obesidade, de acordo com o médico André Gustavo Pires de Sousa, da Divisão de Atenção à Saúde do Servidor da instituição.


"Quando a obesidade passou a ser encarada como um fator de risco principal para formas graves de Covid, chamou muito a atenção para o problema. Algumas pessoas procuram ajuda para modificar hábitos", diz Sousa.

A universidade contava com programa de enfrentamento à questão, que foi suspenso durante a pandemia e está sendo reestruturado. A instituição também está fazendo uma pesquisa com os servidores obesos. O objetivo é entender e conhecer o perfil dos técnicos administrativos e sua relação com saúde, conforto, segurança e eficiência no trabalho.


De acordo com a plataforma Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), do Ministério da Saúde, 22,4% dos adultos das capitais e do Distrito Federal são obesos, e 57,2% estão com excesso de peso.

O número bate com a pesquisa realizada em 2018 com 223 servidores de duas universidades públicas de Manaus – Universidade Federal do Amazonas e Universidade Estadual do Amazonas. A pesquisa apontou que 58,3% do público analisado estava com algum tipo de obesidade.


Mas o que chamou mais a atenção das pesquisadoras foi a prevalência de pessoas com diabetes (25%) e hipertensão (41,7%). "O estudo tinha o objetivo de verificar a eficácia dos aparelhos de pressão. O dado da prevalência de hipertensão foi um dado secundário, mas como foi muito elevado, chamou a nossa atenção", diz Noeli Neves Toledo, da Federal do Amazonas e doutora em ciências da saúde.


Uma nova pesquisa começará a ser desenvolvida pela universidade, com uma amplitude maior, envolvendo alunos e servidores. "A ideia é ter um diagnóstico não só dos ambientes, mas também dos alunos e dos servidores para que a gente possa pensar em novas propostas, novas necessidades", afirma Noeli.


Laura Cordeiro Rodrigues, doutoranda em Saúde Pública pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), entende que o pós-pandemia deverá causar grandes reflexos nos apontamentos sobre o avanço das doenças crônicas. Ela conduziu um estudo na universidade sobre o aumento da obesidade e do sobrepeso com idosos no Brasil.

Com dados de 200 mil indivíduos com 60 anos ou mais, das 26 capitais e do Distrito Federal, provenientes da plataforma Vigitel, entre 2006 e 2019, Laura apontou uma evolução de 53% para 61,4% no número de pessoas do grupo analisado com sobrepeso, e de 16,1% para 23% na obesidade.


"Vem aumentando em todos os extratos que observamos, tanto homens quanto mulheres, de todas as escolaridades, de todas as idades, com ou sem doença crônica, nas regiões mais desenvolvidas e nas menos desenvolvidas do país. Já tem estudos da população adulta mostrando que [a pandemia] teve impacto", diz Laura.

Para Leandro Rezende, do Departamento de Medicina Preventiva da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo, os grandes fatores que contribuíram para o aumento da prevalência da obesidade na população são relacionados à mudança no sistema alimentar, na disponibilidade de alimentos de alto teor calórico e na composição de alimentos, que levou ao aumento do consumo de alimentos ultraprocessados.


"Apesar de reconhecer alimentos ultraprocessados como grande problema de saúde pública, grande causa da obesidade, nosso país ainda dá isenção fiscal para bebidas açucaradas. É um contraditório dentro das políticas públicas."


Na Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo) o programa Vida Saudável tenta enfrentar o problema de obesidade dentro da comunidade universitária.


"Promovemos a prevenção e controle de doenças por meio de intervenção física, acompanhamento nutricional, palestras e seminários. Além disso, também fazemos ações de combate a obesidade", explica André Soares Leopoldo, professor do Centro de Educação Física e Desportos da Ufes.


A maioria dos participantes do programa é de servidores da universidade. Eles realizam de três a cinco vezes por semana as atividades físicas e o acompanhamento nutricional. São avaliados antes do início das atividades e após três meses.


Segundo o professor, cerca de 300 pessoas já passaram pelo programa. "A ideia do projeto e da proposta é que eles adquiram hábitos de vida mais saudáveis. A partir disso, eles conseguem reverter uma série de problemas relacionados a doenças crônicas."

A professora Gilsirene Scantelbury de Almeida, docente da Universidade Federal do Amazonas e doutora em fisiopataologia entende que ainda existem lacunas nas políticas públicas no combate às doenças crônicas.


"Existem fatores de risco que são associados à elevação da pressão que são modificados, a questão da obesidade, do sedentarismo, do tabagismo, do alcoolismo. Mas tem um que não é modificado, que é a hereditariedade. A raça negra geralmente tem um fator de associação com a pressão elevada. Então, há a necessidade de uma maior atenção de políticas públicas para esse grupo." (Emerson Vicente/Folhapress)