Por Vinícius Lisboa
Agência Brasil
Rio de Janeiro
Passados sete anos do acidente de bonde que deixou seis mortos e 50 feridos em Santa Teresa, na região central do Rio de Janeiro, moradores participaram hoje (26) de uma série de atos para lembrar o desastre e reivindicar a reativação do serviço de transporte de forma completa.
Os bondes amarelos e azuis fazem parte da história de Santa Teresa e sobem suas ladeiras há décadas. Em 2011, no entanto, o descarrilamento interrompeu o serviço, que só foi retomado cerca de quatro anos depois, mas atendendo a uma extensão menor.
Atualmente, o bonde sai do centro da cidade e passa pelos largos do Curvelo e dos Guimarães. Também são atendidos em horários mais restritos os percursos até a Praça Odylo Costa Neto e a Rua Francisco Muratori.
Associação
Segundo o presidente da Associação de Moradores e Amigos de Santa Teresa, Paulo Saad, o percurso não atende nem metade da população que usava o serviço anteriormente.
"Esse pequeno trecho ainda não atende nem metade dos moradores. Isso se falarmos em extensão da rua, porque, se falarmos em operação, ele não atende ninguém. São três bondes a 20 reais, passando de 20 em 20 minutos, começando às 8h e terminando às 17h30. Isso não atende ninguém", afirmou Saad. Ele pede que os bondes cheguem à sua extensão original e atendam a locais como o Largo das Neves, Silvestre e Dois Irmãos.
Além disso, o pleito é para que o serviço funcione das 6h à meia-noite. "Se funcionar até oito da noite pelo menos, você conseguirá dar às pessoas a condição de subir o morro [voltando do trabalho]. Porque, para baixo, todo santo ajuda. Hoje, é um pequeno grupo de moradores que usa o bonde".
Outra crítica da associação de moradores é a passagem a R$ 20, preço do qual moradores previamente cadastrados estão isentos. Apesar desse benefício, a associação informa que trabalhadores que precisam ir a Santa Teresa e moradores de localidades vizinhas como a Lapa e a Glória que frequentam o bairro não estão contemplados pela tarifa social e precisam arcar com preço. Estudantes uniformizados e idosos também não pagam a passagem.
Operação
Para lembrar o desastre de 2011, foi realizada uma missa em memória dos mortos na Igreja Anglicana do Largo dos Guimarães. Durante a tarde, a associação coletou assinaturas e panfletou para mobilizar os moradores do bairro. Para as 17h30 foi marcado um cortejo em direção ao Largo das Neves.
Moradora de Santa Teresa há mais de 10 anos, a professora universitária Débora Lerrer disse que os bondes fazem falta em seu cotidiano, já que mora em um dos trechos que ainda não voltaram a ser atendidos pelo serviço.
"Era o melhor meio de transporte do bairro. Tinha horário para pegá-lo. Era o transporte mais rápido para o Centro. Sempre me senti muito mais segura no bonde do que nesses ônibus que correm como loucos". Débora Lerrere passou a usar carro diariamente desde que o bonde deixou de operar até o Largo das Neves. "É ridículo. Hoje, pego o carro, desço até a estação da Glória e pego metrô."
Os bondes de Santa Teresa são operados pela Central Logística, empresa vinculada à Secretaria de Estado de Transportes. Por meio de nota, a secretaria informou que vem trabalhando para aprimorar o sistema e realizar ampliações gradativamente.
No último dia 16, foi iniciada uma nova fase da obra de expansão até o Largo do França. "O prazo de execução é de 120 dias (podendo ser ampliado, conforme as condições climáticas). Com a conclusão, a expectativa é que sejam beneficiados 18 mil moradores a mais", concluiu a nota.