Forças Armadas


Membro da etnia karipuna, Tiago Forte é soldado e serve desde 2015 na Companhia Especial de Fronteira Clevelândia do Norte, em Oiapoque, no Pará. Ele é piloto de embarcação do Exército, conduzindo barcos e lanchas em missões no Rio Oiapoque e afluentes.


A etnia karipuna é da própria região do Oiapoque. Ele disse que, de sua família, metade mora na Terra Indígena de Santa Isabel e a outra metade em Oiapoque.


Tiago teve inspiração na família para entrar no Exército. “Eu quis servir para aprender, ter um conhecimento a mais e também me espelhando em meu tio, que já servia aqui no quartel. Desde 2002 ele servia. Para mim foi um orgulho estar servindo também”, disse. “Aqui em Clevelândia do Norte foi onde eu adquiri muito conhecimento. Para mim, como indígena é uma honra estar servindo ao meu país.”


O soldado contou que outras pessoas de sua aldeia já serviram o Exército. “Sempre existiu essa troca”, afirmou. “Um soldado indígena é um orgulho que se leva para dentro da comunidade por servir o Exército.” 


Tiago explicou que um indígena que serve ao Exército demonstra mais respeito, sabe liderar sua comunidade e correr atrás dos objetivos. Para ele, a relação entre o Exército e os povos indígenas é das melhores possíveis pelo fato de os “povos das aldeias” servirem a uma das Forças Armadas.


Tradição indígena

De uniforme, parado sob o sol enquanto dava entrevista às margens do Rio Oiapoque, Tiago falava baixo, demonstrando estar um pouco deslocado de seu cotidiano enquanto conversava com a imprensa. Ele explicou que não vê muita diferença entre aprender a tradição indígena, que foi passada pelo seu povo, e a cultura militar.


“Quando saia para as missões eu já tinha uma experiência na selva, como adestrar, na sobrevivência também. Para mim não teve quase nenhuma diferença. É um conhecimento que foi um pouquinho a mais. O ensinar foi diferente, mas eu aprendi,” disse.


O Oiapoque é uma região de fronteira do Brasil com a Guiana Francesa e tem no garimpo ilegal um dos principais desafios enfrentados pela Companhia Especial de Fronteira, dentre os crimes transnacionais e ambientais combatidos pelo grupamento. 


“Quando eu vou para as missões no garimpo vou com medo. Deixo minha família em casa, mas vou cumprir a missão da melhor forma possível, seja no garimpo, seja onde for a missão”, garantiu.


Apesar dos prejuízos ambientais para as comunidades indígenas causadas pelos garimpos ilegais, Tiago se preocupa apenas em cumprir sua missão e em sua segurança quando o alvo é uma dessas contravenções. Ele não leva nenhum sentimento pessoal durante as missões.


“Quando eu vou para o garimpo eu sei que o que eles estão fazendo, não é certo, não é errado, é uma forma de sobrevivência para eles, um meio de trabalho, mas a gente vai cumprir a missão”, finalizou.