Nossa Senhora Aparecida, tida por católicos como a padroeira do país, não tem vez na Marcha para Jesus. "O Brasil não tem uma senhora, o Brasil tem um senhor, e o nome dele é Jesus", disse Fernandinho, no palco deste que é o maior evento evangélico nacional.

Ele é uma das várias estrelas gospel escaladas para se apresentar nesta quinta (20) de Corpus Christi, na 27ª edição da Marcha para Jesus –e a primeira com participação de um presidente.

Jair Bolsonaro, que em campanha eleitoral no ano passado já havia ido ao evento, prometeu voltar se eleito. Assim foi. Ele é aguardado para falar no palco nesta tarde. 

A descrença em santos, um dos pilares do catolicismo, é uma marca da fé evangélica, que refuta idolatria e veneração de imagens (como as representações de santos comuns em igrejas sob jugo do Vaticano).

Juntos, evangélicos e católicos formam o bloco cristão, maior quinhão religioso no país. A relação entre os dois segmentos nem sempre foi boa

O auge da hostilidade foi em 1995, quando, em programa da Record, um bispo da Universal do Reino de Deus chutou a imagem de Nossa Senhora Aparecida. O bispo Edir Macedo criticou o ato 20 anos depois, no SBT: "Foi um chute no estômago".

A Marcha para Jesus reúne sobretudo evangélicos, embora seja possível esbarrar com pessoas de outros credos. 

Seu idealizador, o apóstolo Estevam Hernandes, da Renascer em Cristo, fez as vezes de mestre de cerimônias. E lançou um desafio àqueles que não creem. Lembrou de um sujeito que pediu: "Me prova que Jesus existe". 

"Presta atenção", disse a ele. "Você conhece a Coca-Cola. Sabe por que conhece? Porque a Coca gasta bilhões em propaganda e tem uma fórmula que todo mundo gosta." Agora, quanto se gasta em propaganda para divulgar o nome de Jesus? "Nada", respondeu à própria pergunta. 

Em seguida, pediu à plateia concentrada numa praça na zona norte paulistana: "Levanta o pé direito e dá um pisão na cabeça do satanás". O chão tremeu.

A multidão na frente do palco é praticamente intransponível. A área está tomada pelo público que assiste aos shows gospel, em músicas quase sempre finalizadas com um "amem".

Nas imediações, um vendedor de camisetas colocou um totem com uma foto em tamanho real de Bolsonaro com a faixa de presidente.

Participantes tiraram fotos –alguns faziam gesto de arma com os braços, outros faziam um coração com as mãos.

O apóstolo Valdemiro Santiago, da Mundial do Poder de Deus, disse à Folha de S.Paulo que orar pelo presidente é dever de todo evangélico, pois "toda autoridade é constituída por Deus".