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string(4592) "A economista e CEO GoesInvest Tatiana Goes é uma das poucas vozes do mercado financeiro a dizer que o ministro da Economia Paulo Guedes cometeu um erro ao manter a offshore nas Ilhas Virgens Britânicas mesmo depois de assumir o cargo.
Goes fala sobre a gestão pública com conhecimento de causa. Antes da sua ampla atuação no setor privado, ela trabalhou no Banco Central e no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Goes ressalta que não é contra o uso de offshores na proteção de patrimônios e cita como exemplo a compra de imóveis nos Estados Unidos, quase sempre feita através de companhias como essas, mas diz que o problema está no conflito de interesses.
Veja a seguir os principais trechos da entrevista que ela deu ao Metrópoles.
Metrópoles: O Pandora Papers revelou a existência de uma offshore do ministro Paulo Guedes. Qual sua avaliação?
Tatiana Goes: Ele ter uma offshore, tudo bem, qualquer um pode ter. É até recomendável na maioria dos casos onde o cliente tem patrimônio e quer fazer a parte de sucessão dele. O erro dele foi não ter saído da administração dessa offshore.
Metrópoles: Por quê?
Tatiana: Subentende-se que um cara que tem um alto cargo no governo pode possuir e ter acesso a informações privilegiadas. Ele também estaria errado se tivesse uma empresa no Brasil. O Código de Conduta da Alta Administração Federal proíbe manter aplicações financeiras no Brasil ou no exterior passíveis por serem afetadas por suas decisões governamentais.
Metrópoles: Ele errou, então?
Tatiana: Ele errou, ele não podia ficar como administrador dessa empresa. Agora ele vai ter que negociar com a ilha [Ilhas Virgens Britânicas] e obviamente, a Comissão de Ética Pública (CEP).
Metrópoles: O ministro Paulo Guedes apresentou um documento dizendo que ele não era mais diretor da empresa desde o fim de 2018, mas continuou como sócio e beneficiário dela. Isso muda alguma coisa na sua opinião?
Tatiana: Dá no mesmo, beneficiário ou administrador. Nesse caso, ele não tem mais poder discricionário sobre as movimentações da empresa. Ele não pode movimentar a conta, mas é muito complicado, porque ele como alto escalão, principalmente como ministro da Economia… É conflito de interesse. Agora, ele tinha a offshore declarada [na Receita Federal]. O erro foi da Comissão de Ética.
Metrópoles: Mas por que ter a offshore não é problema?
Tatiana: Não é, a demonização do termo offshore que é demais. Existiu um outro momento no passado onde offshores não pediam que informassem quem são os sócios, mas isso passou. Com o Panamá Papers, o Panamá teve de se ajustar. Antes, uma pessoa no Panamá não precisava nem mandar documentação pessoal. Agora tudo o que entra e sai é reportado.
Metrópoles: Que outras consequências você avalia que o caso pode ter?
Tatiana: No caso do Pandora Papers, depois dessa confusão toda, muito banco estrangeiro não vai aceitar brasileiro nem pintado de ouro.
Metrópoles: Como assim?
Tatiana: Um exemplo é o que aconteceu com o HSBC no início dos anos 2010. Eles solicitaram que brasileiros com conta na Suíça tirassem o dinheiro de lá em 90 dias. Os bancos ficam muito sensíveis a riscos de imagem.
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Goes fala sobre a gestão pública com conhecimento de causa. Antes da sua ampla atuação no setor privado, ela trabalhou no Banco Central e no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Goes ressalta que não é contra o uso de offshores na proteção de patrimônios e cita como exemplo a compra de imóveis nos Estados Unidos, quase sempre feita através de companhias como essas, mas diz que o problema está no conflito de interesses.
Veja a seguir os principais trechos da entrevista que ela deu ao Metrópoles.
Metrópoles: O Pandora Papers revelou a existência de uma offshore do ministro Paulo Guedes. Qual sua avaliação?
Tatiana Goes: Ele ter uma offshore, tudo bem, qualquer um pode ter. É até recomendável na maioria dos casos onde o cliente tem patrimônio e quer fazer a parte de sucessão dele. O erro dele foi não ter saído da administração dessa offshore.
Metrópoles: Por quê?
Tatiana: Subentende-se que um cara que tem um alto cargo no governo pode possuir e ter acesso a informações privilegiadas. Ele também estaria errado se tivesse uma empresa no Brasil. O Código de Conduta da Alta Administração Federal proíbe manter aplicações financeiras no Brasil ou no exterior passíveis por serem afetadas por suas decisões governamentais.
Metrópoles: Ele errou, então?
Tatiana: Ele errou, ele não podia ficar como administrador dessa empresa. Agora ele vai ter que negociar com a ilha [Ilhas Virgens Britânicas] e obviamente, a Comissão de Ética Pública (CEP).
Metrópoles: O ministro Paulo Guedes apresentou um documento dizendo que ele não era mais diretor da empresa desde o fim de 2018, mas continuou como sócio e beneficiário dela. Isso muda alguma coisa na sua opinião?
Tatiana: Dá no mesmo, beneficiário ou administrador. Nesse caso, ele não tem mais poder discricionário sobre as movimentações da empresa. Ele não pode movimentar a conta, mas é muito complicado, porque ele como alto escalão, principalmente como ministro da Economia… É conflito de interesse. Agora, ele tinha a offshore declarada [na Receita Federal]. O erro foi da Comissão de Ética.
Metrópoles: Mas por que ter a offshore não é problema?
Tatiana: Não é, a demonização do termo offshore que é demais. Existiu um outro momento no passado onde offshores não pediam que informassem quem são os sócios, mas isso passou. Com o Panamá Papers, o Panamá teve de se ajustar. Antes, uma pessoa no Panamá não precisava nem mandar documentação pessoal. Agora tudo o que entra e sai é reportado.
Metrópoles: Que outras consequências você avalia que o caso pode ter?
Tatiana: No caso do Pandora Papers, depois dessa confusão toda, muito banco estrangeiro não vai aceitar brasileiro nem pintado de ouro.
Metrópoles: Como assim?
Tatiana: Um exemplo é o que aconteceu com o HSBC no início dos anos 2010. Eles solicitaram que brasileiros com conta na Suíça tirassem o dinheiro de lá em 90 dias. Os bancos ficam muito sensíveis a riscos de imagem.