Sócio e cofundador do The Intercept, site que deu início à série de reportagens baseadas nos diálogos vazados de procuradores da Lava Jato e de Sergio Moro, foi o entrevistado do programa Roda Vida, da TV Cultura, na noite dessa segunda (2)


Entrevistado do Programa Roda Viva - exibido na noite dessa segunda-feira (2) na TV Cultura -, o jornalista e advogado Glenn Greenwald reafirmou a autenticidade dasmensagens vazadas pelo site The Intercept. 


Segundo Greenwald, ao contrário do que afirmam o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, e do coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol, as conversas não foram adulteradas. Teriam, inclusive, passado pela perícia de especialistas em Nova York, bem como rigorosos métodos de apuração e comparação.  

"A autenticidade desse arquivo não está mais em dúvida. Esse jogo cínico que o Moro e Dallagnol estavam fazendo no começo acabou. A questão é como vamos fortalecer o combate à corrupção. Sabemos que temos o ministro da Justiça e o coordenador que usavam métodos completamente corruptos, não em casos isolados, mas o tempo todo", disse o sócio do The Intercept aos jornalistas do Roda Viva. 

Outro argumento citado por Glenn para defender a veracidade dos diálogos foi o caso da procuradora Jerusa Viecili, da força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba, que pediu desculpas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)  por meio de sua conta no Twitter em 27 de agosto. Ela foi citada em uma das reportagens da série Vaza Jato, que mostrou que membros do Ministério Público Federal (MPF) zombaram da morte da esposa de Lula, Marisa Letícia, em 2017. O grupo de procuradores também teria ironizado os pedidos do ex-presidente para acompanhar o enterro de seu irmão, Genival Inácio da Silva, morto em janeiro deste ano; e do neto, que morreu em abril. 


O norte-americano rechaçou ainda a ideia de que Vaza-Jato veio para minimizar os casos de corrupção revelados pela operação Lava Jato. Greenwald chegou a afirmar que era um defensor da força-tarefa, mas mudou seu ponto de vista depois de ter acesso às mensagens trocadas entre ex-juiz federal Sérgio Moro e os procuradores do caso. 

"É impossível combater a corrupção com corruptos ou métodos corruptos. Então, acredito, sem dúvida, que o trabalho jornalístico que estamos fazendo não está enfraquecendo a Lava jato, está fortalecendo a Lava jato e o combate à corrupção, porque está levando mais integridade e mais credibilidade".

Questionado sobre as discussões em torno da ética de se publicar material obtido por meios ilegais, Glenn  disse que a imprensa tem o dever de divulgar conteúdos que classificou como de amplo interesse público. "Isso é a história dos jornalistas não só aqui mas em todo o mundo democrático. O público tem o direito de saber que essas pessoas poderosas fizeram nas sombras", defendeu. 


Ele ressaltou, no entanto, que nunca pagou por qualquer tipo de informação. "Nunca pagamos nenhum centavo para nenhuma fonte, inclusive a fonte que passou essa informação para a gente", afirmou. 


Outro ponto da discussão foi a investigação policial sobre os hackers que invadiram os celulares dos envolvidos nos diálogos da Vaza Jato. Greenwald disse não interromperia a série de reportagens caso a polícia chegasse à conclusão de que os hackers receberam dinheiro para a obtenção e divulgação das conversas vazadas. 


"Absolutamente não. O jornalismo mais importante e mais premiado muitas vezes vem de fonte que cometeu crime. Não é o papel dos jornalistas perguntar de onde vem a informação. Isso não tem nada a ver com o fato de que essa informação tem que ser publicada", disse.

Também foi tópico da entrevista os  possíveis impactos da série de reportagens baseadas nos diálogos vazados - como o anulamento da condenação do ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras Aldemir Bendine - e o efeito cascata que decisão, que pode alcançar 43 réus na Lava Jato. 


Sobre um possível efeito cascata que pode alcançar 143 réus na Lava Jato após o STF (Supremo Tribunal Federal) anular a condenação imposta por Moro ao ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras Aldemir Bendine, Greenwald disse não ver essa possibilidade como responsabilidade ou um saldo final das reportagens que têm sido publicadas.


"Em todos os países, há a mesma regra. Se o Estado comete ações ilegais ao condenar, o processo é injusto. Se corruptos serão soltos, isso não é culpa nossa, que estamos revelando isso, mas dos juízes e dos procuradores."