O valor atribuído à nova joint venture é de US$ 4,75 bilhões; Boeing deve pagar US$ 3,8 bilhões à Embraer
Após meses de negociações, Boeing e Embraer anunciaram que chegaram a um acordo para a criação de uma nova empresa, que vai envolver os negócios de aviação comercial da Embraer. A nova companhia, que nasce avaliada em US$ 4,75 bilhões, terá uma participação de 80% da Boeing e de 20% da empresa brasileira. Pelo acordo, a Boeing pagará US$ 3,8 bilhões à Embraer. As áreas de defesa e segurança e de jatos executivos ficaram de fora do acordo. As duas empresas informaram, porém, que vão criar uma outra joint venture para a área de defesa, mas sem especificar os termos dessa parceria.
Segundo comunicado divulgado pelas empresas, a nova companhia será comandada por uma equipe de executivos que ficará sediada no Brasil, mas respondendo diretamente ao presidente da Boeing, Dennis Muilenburg. O grupo americano terá o “controle operacional e de gestão” da nova empresa.
Apesar de o acordo básico ter sido definido, os detalhes financeiros e operacionais ainda devem continuar a ser discutidos nos próximos meses. Depois disso, segundo o comunicado, o acordo estará sujeito a “aprovações regulatórias e de acionistas, incluindo a aprovação do governo brasileiro, bem como outras condições habituais pertinentes à conclusão de uma transação deste tipo”. A avaliação é que, se todas as aprovações forem concedidas no tempo previsto, a transação esteja efetivamente fechada até o final de 2019.
“Essa importante parceria está claramente alinhada à estratégia de longo prazo da Boeing de investir em crescimento orgânico e retorno de valor aos acionistas, complementada por acordos estratégicos que aprimoram e aceleram nossos planos de crescimento”, disse Muilenburg, no comunicado. “Esse acordo com a Boeing criará a mais importante parceria estratégica da indústria aeroespacial, fortalecendo ambas as empresas e sua posição de liderança do mercado mundial”, disse Paulo Cesar de Souza e Silva, presidente da Embraer.
A informação de que as empresas teriam chegado a um consenso e de que detalhes do acordo seriam divulgados ainda hoje foi antecipada pela colunista Sonia Racy.
As duas empresas anunciaram no dia 21 de dezembro do ano passado que estavam estudando uma “possível combinação” de suas atividades. O empecilho para o acordo era o governo federal. Apesar de a Embraer ser uma empresa privada – e ter hoje mais acionistas estrangeiros do que brasileiros –, o governo detém uma ação especial (conhecida como golden share) que lhe dá poder de veto em algumas decisões importantes, como a criação ou alteração de programas militares ou a transferência de controle acionário.
Daí a necessidade de se conversar com o Planalto, que relutava principalmente em relação à inclusão da área de defesa e segurança nas negociações. Efetivamente, essa unidade ficou de fora da joint venture anunciada hoje, e será alvo de uma parceria diferente, ainda não especificada. De acordo com a Embraer, mesmo após o acordo, a União permanecerá com os direitos decorrentes da golden share.
Os termos do memorando de entendimentos divulgado há pouco por Boeing e Embraer, que detalham a estrutura da eventual parceria entre elas, foi bem avaliado pelo banco Safra.
“Ainda vamos investigar mais a fundo o anúncio, porém nossa primeira leitura é positiva. O acordo avalia a unidade de aviação comercial da Embraer em US$ 4,57 bilhões, valor próximo da capitalização de mercado da Embraer ontem, de US$ 4,8 bilhões, implicando uma avaliação abaixo do mercado para os outros segmentos da Embraer, como a Aviação Executiva e Defesa”, escreve o analista Lucas Marquiori.
Nova sociedade. A nova sociedade, controlada pela Boeing, será administrada por uma diretoria e um conselho de administração. A Embraer, por sua vez, terá direitos a governança e de veto em determinadas matérias, observados termos e condições a serem estabelecidos nos documentos definitivos.
A joint venture terá uma política anti-diluição e de dividendos e as duas empresas não poderão dispor de suas respectivas ações de emissão da nova sociedade pelo prazo de 10 anos (período de lock-up) a contar do fechamento da operação.
Aliado a isso, os documentos definitivos deverão prever demais regras para a transferência de ações, incluindo os direitos de primeira oferta, de venda conjunta (tag along) e o direito de obrigar a venda conjunta (drag-along), em termos usuais para operações deste tipo, e respeitado o período de lock-up. A Embraer terá o direito, em determinadas circunstâncias, de vender sua participação na nova sociedade para a Boeing.