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Após vivenciar um ano de 2020 caótico por causa da pandemia da Covid-19, os brasileiros não vivem um 2021 tão diferente assim. O ano, que começou com a falta de oxigênio e o colapso da rede de saúde do estado do Amazonas (AM), continua dando indícios de que a pandemia está longe do fim. Ontem, o país registrou a maior média móvel de mortes, com 1.102 óbitos, igualando a marca atingida em 25 de julho de 2020. Para especialistas, o momento é ainda mais crítico do que o vivido no último ano e pode piorar sem as medidas para conter a transmissão do vírus e uma vacinação rápida.
Segundo levantamento do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass), o Brasil confirma, em média, 1.102 óbitos por dia. A média móvel de mortes é a maior desde o início da pandemia e já foi atingida em 25 de julho do ano passado, quando o país passava pelo pico da pandemia da Covid-19. As outras duas maiores médias de óbitos registradas em julho de 2020 também já foram atingidas no início deste ano.
Foto: Divulgação/Ministério da Saúde |
“Essa média móvel de mortes só mostra para a gente que estamos em um momento muito mais crítico do que já estivemos nos últimos 12 meses. A situação é crítica e isso pode até piorar”, avalia a infectologista do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto Anna Christina Tojal. A médica acredita que isso é um reflexo do descontrole que o país apresenta em relação à infecção do novo coronavírus.
“Esse aumento de casos se deve obviamente às aglomerações. A gente não conseguiu parar a disseminação do vírus, as pessoas parecem que não acreditam na infecção e essa taxa de transmissão continua aumentando”, aponta. A última taxa de transmissão (Rt) medida por levantamento do Imperial College de Londres, estava em 1,02, ou seja, um grupo de 100 doentes é capaz de infectar outras 102 pessoas saudáveis. No mapa dos 75 países analisados pelo Imperial College, o Brasil tem a 21ª pior taxa de transmissão. O ideal é que essa taxa fique abaixo de 1.
Esse descontrole é um dos efeitos da acomodação da população com o cenário de pandemia, segundo o epidemiologista e professor em saúde coletiva da Universidade de Brasília (UnB) Jonas Brant. “Esse indicador (média móvel de mortes) mostra que a população vem começando a se acomodar com o cenário de pandemia, voltando às atividades de rotina”, aponta. Para ele, a falta de uma resposta efetiva dos governos influencia diretamente no comportamento da sociedade.
“Temos uma resposta muito pouca efetiva no que diz respeito a rastreamento de contatos, a testagem e a medidas sociais econômicas. Tudo isso leva a essa confusão e dificuldade de entendimento da mensagem pela população”, pontua.
Junto ao cenário de acomodação das pessoas perante as medidas não farmacológicas, surgem as novas variantes, que tendem a ser mais transmissíveis e letais. A lenta detecção das novas cepas pode favorecer ainda mais a transmissão do vírus. “A frequência de detecção dessas variantes, até o momento, ainda é muito limitada. Porém, espera-se que a detecção dessas variantes aumente gradualmente nas próximas semanas e meses”, diz a Organização Pan-Americana da Saúde.
Vacinação lenta
Além disso, para outros especialistas a chegada da vacina contra o novo coronavírus pode ter criado uma falsa sensação de segurança. “O governo vem vendendo a ideia de que com a vacina o problema está resolvido e não está. Porque para estar completamente imunizado você precisa tomar duas doses. As pessoas que estão tomando a primeira dose ainda podem se infectar e morrer. Então, nós precisamos manter todas as medidas de isolamento e o uso de máscara”, afirma o infectologista Leandro Machado.
O ritmo lento de imunização e a falta de vacinas não ajudam. Até o momento, apesar das promessas de novas contratações, o governo tem acordo firmado com o Instituto Butantan, com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e com a iniciativa internacional Covax Facility. “As vacinas têm mostrado, em alguns países, um efeito importante nesses grupos que estão sendo vacinados, com a queda no número de óbitos. Então, elas podem ter uma contribuição importante, mas ainda é muito cedo para ver isso no Brasil”, ressalta Jonas Brant.
Anvisa vistoria fábricas
As fábricas de duas vacinas contra o novo coronavírus serão inspecionadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no início de março. O órgão anunciou, no sábado, que vai vistoriar as instalações de produção da Coxavin, desenvolvida por um laboratório indiano, e da Sputnik V, criada na Rússia, mas em fabricação no Brasil.
Nenhum dos dois imunizantes tem pedido para uso emergencial ou aplicação em massa no país. No entanto, a inspeção das fábricas antes do pedido formal acelera o processo de análise e de aprovação para a aplicação no Brasil.
Em relação à Coxavin, a Anvisa anunciou que a inspeção será feita entre 1º e 5 de março na instalação da Precisa Farmacêutica, representante do laboratório indiano Bharat Biotech no país. A vistoria na fábrica da União Química, parceira brasileira do Instituto Gamaleya, da Rússia, está marcada para o período de 8 a 12 de março. A fábrica da União Química fica em Guarulhos (SP).
Caso as fábricas estejam de acordo com os padrões da Anvisa, receberão o Certificado de Boas Práticas de Fabricação (CBPF). No último dia 8, a Pfizer/Biontech, pediu o CBPF para três locais de fabricação. O laboratório tem outras quatro fábricas certificadas pela Anvisa.
Atualmente, além da Pfizer, os produtores de três vacinas — AstraZeneca, Janssen e CoronaVac — têm fábricas aprovadas pela Anvisa. No entanto, somente as vacinas da AstraZeneca e CoronaVac estão com o uso emergencial liberado pelo órgão. Entre o fim de janeiro e o início de fevereiro, os produtores da AstraZeneca e da vacina da Pfizer pediram o registro definitivo à agência.