'Não aprovamos e não admitimos a utilização do evento para a promoção de campanhas políticas', afirmou o arcebispo de Olinda e Recife
Dom Fernando Saburido pediu que fiéis não usem camisas com propaganda política e que não façam panfletagem. Foto: Alcione Ferreira/DP |
O clima de acirramento político chegou à Igreja Católica. Às vésperas de uma das principais caminhadas promovidas por ela, o Sim à vida, marcada para este domingo, seis movimentos religiosos e sociais ligados à instituição religiosa, temendo que grupos partidários usem o evento para fins eleitorais, pediram ao arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido, para adiar a manifestação. O pedido foi por escrito e protocolado na Cúria Metropolitana. O arcebispo optou pela manutenção da caminhada, prevista para ter início a partir das 9h, em Boa Viagem. E em vídeo divulgado para todas as paróquias da arquidiocese, ele afirmou de maneira incisiva que não admite a utilização do evento para fins partidários, pedindo “encarecidamente” para que os participantes não usem camisas com propaganda política e que não façam panfletagem.
"Não aprovamos e não admitimos a utilização do evento para a promoção de campanhas políticas partidárias, independentemente de partidos", salienta dom Fernando Saburido no comunicado. Ainda no vídeo, o líder religioso afirma que o Sim à vida é um evento religioso para prestigiar a Semana da Família e o Dia do Nascituro, datas instituídas pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Por fim, na mensagem, ele faz um apelo para que os participantes, no domingo, deem um grito profético em defesa da vida no planeta.
O pedido de cancelamento da caminhada Sim à vida, segundo apurou a reportagem, veio após dias de apreensão dentro da igreja. Em rodas de conversas, nos corredores das paróquias e da Cúria Metropolitana, e em reuniões de pastorais e movimentos, leigos e sacerdotes tomaram conhecimento de que um grupo de pessoas ligado à Pastoral da Família pretendia incluir a execução do hino nacional na caminhada. A execução do hino nunca ocorreu na história do evento, que em 2018 alcança a 12ª versão. O hino seria o mote para gritos em favor do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL).
Esta versão de favorecimento à candidatura de Bolsonaro é reforçada na carta dos movimentos religiosos e sociais endereçada ao arcebispo. "Acreditamos que isso acontece sem o seu conhecimento. Como filhos e filhas desta mesma igreja, participantes ativos da sua missão evangelizadora, sentimo-nos apreensivos com o que pode acontecer num possível confronto entre os apoiadores dos dois candidatos", afirma a mensagem, assinada pela Tenda da Fé, o Centro de Estudos Bíblicos (Cebi), o Fórum de Articulação de Leigos e Leigas, o Movimento de Trabalhadores Cristãos (MTC) – Regional Nordeste II e o Movimento de Mulheres contra o Desemprego.
A caminhada, animada por cinco trios elétricos, começa em frente ao Edifício Castelinho e termina no Segundo Jardim da Avenida Boa Viagem. Entre as atrações dos trios estão padre Damião Silva, Banda Petrus e Comunidade Boa Nova.