A Confederação Nacional de Articulação das Comunidades Quilombolas (Conaq) realizou um levantamento inédito que aponta que apenas 24% da população quilombola alcançada pela amostra está totalmente imunizada. Além disso, 11% ainda não recebeu sequer a primeira dose, apesar de fazer parte dos grupos prioritários.

 

Com apoio da ONG Terra de Direitos e da Ecam Projetos Sociais, a pesquisa coletou dados de 445 quilombos em 23 estados brasileiros. Do total de 138.230 quilombolas entrevistados, 90.075 receberam a primeira dose, 32.748 receberam as duas doses, enquanto 15.407 não foram vacinados.

Em fevereiro, após ser acionado pela Confederação, o Supremo Tribunal Federal (STF) emitiu a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 742, determinando que as comunidades quilombolas seriam grupo prioritário na vacinação contra a covid-19. No dia 1º de julho, o ministro do STF Edson Fachin deu um novo prazo de 15 dias para o governo federal acelerar a imunização entre os quilombolas que viviam fora das suas comunidades. 

 

Entre os principais problemas apresentados no levantamento estão a negação da vacina para quilombolas que estejam fora do território, o envio de doses insuficientes e dificuldades no planejamento e execução da vacinação.

O relatório também indica 22 casos de pessoas que, entre a primeira e segunda dose, receberam imunizantes de diferentes fórmulas. 

Em julho, a Conaq já havia denunciado que os dados para a elaboração da campanha de vacinação estavam defasados, já que utilizavam os números do Censo de 2010.

"O desconhecimento da realidade quilombola pelo Estado afeta a forma como a política pública é estruturada e distribuída, impactando a qualidade da decisão das pessoas responsáveis pela gestão pública. Transfere ainda para a liderança quilombola a responsabilidade pela execução da política", declaram em comunicado. 

Para a Conaq, o panorama da imunização contra o novo coronavírus e as denúncias apresentadas são mais um reflexo do racismo institucional no Brasil.