Brasil247 - Reportagem do Metrópoles revelou que o escritório do advogado Nelson Wilians, conhecido por sua atuação empresarial e ostentação nas redes sociais, movimentou expressivos R$ 4,3 bilhões em operações financeiras consideradas suspeitas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) entre 2019 e 2024. Parte dessas transações foi direcionada ao empresário Maurício Camisotti, apontado como um dos principais beneficiários da chamada “farra dos descontos” contra aposentados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
As informações constam em Relatórios de Inteligência Financeira (RIFs) enviados à Polícia Federal no contexto da Operação Sem Desconto, deflagrada em abril. Apesar do vínculo com Camisotti, Nelson Wilians não é formalmente investigado pela operação.
Outro relatório já havia revelado repasses de R$ 15,5 milhões de Wilians para Camisotti, que, apesar de ser cliente do advogado, também recebeu pagamentos da banca de forma direta, como pessoa física.
Relações com o plano de saúde Geap e atuação na Justiça - Entre 2016 e 2020, período no qual Camisotti e
Nelson Wilians prestavam serviços ao plano de saúde dos servidores federais, o Geap, as transações entre suas empresas chegaram a R$ 12 milhões. O Geap, então dominado por indicações políticas do PP e do PT, rescindiu os contratos com ambos em 2019, já durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), sob o comando de militares que alegaram prejuízos aos cofres da entidade.
A disputa gerou uma série de ações judiciais, com Wilians atuando como advogado da Prevident, empresa de Camisotti, contra o próprio Geap. Posteriormente, Wilians também passou a representar uma das associações criadas por Camisotti, a Ambec, que firmou acordos com o INSS para realizar descontos diretos na folha de pagamento dos aposentados — atividade que teria gerado uma receita mensal de R$ 30 milhões.
Negócio de luxo e elo com o “Careca do INSS” - Outro dado levantado pelo Coaf mostra que uma corretora de seguros de Camisotti pagou R$ 1 milhão ao lobista Antonio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, que atua junto ao Instituto em nome de associações. A investigação ainda aponta que, em novembro de 2020, Camisotti adquiriu uma mansão no Jardim Europa, bairro nobre de São Paulo, por R$ 22 milhões. O imóvel viria, posteriormente, a integrar a propriedade de Wilians, tornando-se parte do jardim de sua residência.
Defesa de Nelson Wilians - Em nota enviada ao Metrópoles, o escritório Nelson Wilians Advogados criticou o vazamento das informações: “diante do vazamento indevido e possivelmente ilegal de informações protegidas por sigilo, envolvendo movimentações financeiras de uma das contas bancárias do Nelson Wilians Advogados, esclarecemos que os valores mencionados são plenamente compatíveis com a estrutura e a atuação do escritório”.
A assessoria afirmou ainda que a banca não é alvo de investigação e que as transações são “legítimas, de caráter estritamente privado e não guardam qualquer relação com investigações sobre fraudes ou eventuais práticas criminosas”.
Sobre os pagamentos a Camisotti, o escritório declarou: “os valores pagos a ele referem-se à compra de um imóvel, em transação privada, formalizada por contrato e devidamente registrada — sem qualquer relação com a atividade profissional da banca”.