Justamente na semana em que acaba o prazo para que responda às 50 perguntas da Polícia Federal sobre o suspeito decreto dos portos, Michel Temer chamou para uma conversa o diretor da PF, Fernando Segóvia. Mas disse o Planalto que a reunião foi para tratar de segurança. Se fosse, dela teria participado o ministro da Justiça, chefe da Força Nacional de Segurança. Ou o ministro da Defesa, Raul Jungmann, já que as Forças Armadas agora são usadas cada vez como polícia. Sintomaticamente, quem participou do encontro foi o subchefe de Assuntos Jurídicos da Casa Civil, Gustavo do Vale Rocha, que tem sido o assessor jurídico de Temer em suas encrencas judiciais.

Todo mundo fingiu que acreditou mas não podem ter tratado de outra coisa. Só num governo completamente despudorado o presidente da República convoca o diretor da Polícia Federal para tratar de um questionário apresentado pela própria Polícia Federal, a pedido do relator de um processo, o ministro do STF, Roberto Barroso.

As perguntas são cabeludas, e terminam com a interpelação direta sobre recebimento de propina para a edição do decreto que favoreceu a Rodrimar com a prorrogação da concessão no Porto de Santos. Temer pode nada responder, o que corresponderia a seu direito de ficar calado num depoimento.

Em breve, acaba o prazo fixado para as diligências e o inquérito será devolvido à Procuradora-geral da República, Raquel Dodge. Como venho dizendo, não se deve subestimar a possibilidade de que ela apresente uma terceira denúncia contra Temer. A opção é pedir o arquivamento do inquérito, apesar das evidências amazônicas de que tem caroço neste decreto.