“Eu não posso pautar minha vida com base numa fantasia, num álibi falso de perseguição política”
“Sei que alguns eventualmente interpretaram a minha ida como uma espécie de recompensa. É algo absolutamente equivocado, porque minha decisão [que condenou Lula] foi tomada em 2017, sem qualquer perspectiva de que o então deputado federal [Bolsonaro] fosse eleito presidente da República. O que existe é um crime que foi descoberto, investigado e provado. As cortes de justiça apenas reconheceram esse fato e impuseram a pena da lei. Apenas cumpriram seu dever.”
Esse é o dublê de juiz — já que ainda pertence ao Poder Judiciário — e futuro ministro da Justiça, Sérgio Moro, durante entrevista coletiva, tentando explicar a sua ida para o governo.
Sua fala não responde à minha crítica e à minha restrição principais, de natureza absolutamente objetiva. Eu não acuso o juiz de perseguir o PT. Eu afirmo que ele é responsável, em razão dos métodos que adota, por promover uma destruição na classe politica como um todo.
Aliás, um dos erros do petismo é imaginar que só o partido é alvo do juiz. A coisa é bem mais ampla.
Na coletiva, disse também que recebeu uma sondagem para integrar o futuro governo no dia 23, depois, portanto, de ter liberado trechos da delação de Antonio Palocci. Do meu ponto de vista, nada muda.
Divulgação de delações e denúncias feitas na boca da urna são detestáveis partam de onde partirem, pouco importando os alvos. Neste 2018, todos foram alvos de ações deletérias assim: PT, PSDB e ate o PSL de Bolsonaro.
Ademais, fato é que o juiz deveria ter se desligado do Poder Judiciário. E, no entanto, lá ele continua até janeiro, numa dupla militância até onde se sabe inédita.
Ah, sim: não cabe ao ainda juiz e já futuro ministro ficar repetindo trechos de sua sentença, já que o outro lado não poderia apresentar o contraditório, e o caso ainda não transitou em julgado.
O juiz Sérgio Moro tem pouco apreço pelas formalidades do direito. Eu tenho muito.
Moro responde ao PT, mas não responde ao essencial. Quem faz o que ele fez na classe política não pode, depois, virar um político, dizendo-se, no entanto, apenas um técnico.
Reinaldo Azevedo. Foto: Reprodução/YouTube