Isac Nóbrega/PR | Reuters

Por Gilvandro Filho, dos Jornalistas pela Democracia

Paulo Damião tinha a mesma idade que Gustavo Teixeira Correia: 42 anos. Um era pobre e motorista de táxi. Conhecido e querido no seu meio. O outro, um bem sucedido corretor de imóveis. Bem conhecido na cidade. Ambos se cruzaram nessa sexta-feira (15), numa esquina do bairro do Bessa, em João Pessoa-PB. Paulo estava trabalhando. Gustavo voltava para casa, alcoolizado, em um carro de aplicativo. Um carro não chegou encostar no outro, mas o que levava Gustavo trancou o táxi de Paulo que pediu para o colega recuar um pouco para que ele passasse. Gustavo tomou aquilo como ofensa e desceu do carro. Apenas nove segundos depois puxou um revólver da cintura e matou Paulo com três tiros.

História mais emblemática do rumo que este país pode tomar com a “flexibilização” do desarmamento, impossível. É este o país que querem o presidente da República, o seu governo, os parlamentares da chamada “bancada da bala” e uma legião de valentes feito Gustavo. O corretor de imóveis é um desses “cidadãos de bem” que acreditam na tese estúpida segundo a qual está nas armas o caminho da paz. Como todo bom armamentista, Gustavo até ontem tinha na sua página em uma rede social cheia fotos dele armado, feliz da vida.

O crime aconteceu praticamente na frente da casa do assassino que, calmamente, andou até lá e se trancou com a mulher. Foram quatro horas de negociação com a polícia. Finalmente preso, passou por uma audiência de Custódia e teve depois sua preventiva decretada.

Assim funcionará o Brasil dos sonhos dos armamentistas, com todos de trabuco na cintura, resolvendo as coisas a seu modo. Seja numa briga de trânsito (no caso, nem briga houve, nem deu tempo), numa discussão de bar, numa confusão em campo de futebol ou dentro de casa, com o brabão encerrando a discussão com a mulher. Até porque o feminicídio só faz crescer no país, mesmo sob o Estatuto do Desarmamento como está. Imagina como será a partir do momento em que todos os “habilitados” 975% da população) fossam ter até quatro armas de fogo.

Sob a desculpa de que os “cidadãos de bem” precisam estar armados para enfrentar os bandidos e sob pressão de um lobby endinheirado e poderoso da indústria de armas em cima de deputados e senadores, o País caminha para se tornar uma república de assassinos.

Teria sido sobre isso que conversaram, essa semana, os diretores da Taurus, maior fabricante de armas do Brasil, e o ministro da Justiça, Sérgio Moro? Ninguém sabe. O ministro não diz; alega “direito à privacidade”. Se esteve com os empresários como ministro, Moro tem obrigação de dizer qual foi a conversa. Se foi em caráter privado, pior; que tipo de diálogo privado pode haver entre industriais que vivem dos disparos de seus produtos e um ministro de uma pasta como a da Justiça?

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