Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão" e "O domador de sonhos"

REUTERS/Maxim Shemetov

Há muito mais pontos em comum entre Tite e Napoleão do que supõe a vã filosofia futebolística.

Tite convocou errado. Vários jogadores estavam cansados ou machucados e mesmo assim ele os levou. Estavam bem durante as eliminatórias da América, mas não durante a Copa. Paulinho admitiu que não tirava férias há dois anos. Foi pra Copa. Neymar não jogava há três meses, não deveria participar de um torneio tão competitivo como a Copa do Mundo. Foi pra Copa. Renato Augusto estava em forma nas eliminatórias e não na Copa. Foi pra Copa.

Tite passou a ilusão de que recuperara um time de perdedores, mas só jogou com times das Américas antes da Copa. Comandou apenas dois jogos contra times europeus, a dias da competição. Não treinou contra os mais fortes do mundo, perdeu a oportunidade de conhecê-los previamente e testar seus “homens de confiança” contra as fortes equipes europeias.

Convocou errado porque privilegiou seus parças – seus homens de confiança – em vez de escalar os que estavam em melhores condições físicas e técnicas. Preferiu trazer da Europa um jogador mediano como Firmino, quando há dezenas iguais a ele no Brasil.

Não atentou para o detalhe da altura dos nossos jogadores, mais baixos que os europeus, tanto na defesa quanto no ataque. E também mais franzinos. Num choque entre um jogador europeu e um brasileiro o europeu sempre levou vantagem.

Ficou claro que a preparação física foi equivocada. Douglas Costa se queixou de treinos excessivos. Machucou-se no jogo sem ter sido atingido. Marcelo também. Qualquer jogador europeu ganhava na corrida dos brasileiros. Não sabemos até que ponto a preparação física incompetente influenciou no baixo rendimento da equipe.

Tite desprezou a máxima “em time que ganha não se mexe” no jogo em que o Brasil foi eliminado. Filipe Luis estava dando conta do recado no lugar de Marcelo que se machucara, mas contra a Bélgica, que tinha o ataque mais forte de todos que o Brasil já enfrentara ele tirou o Filipe Luiz, que mais defende que ataca e colocou de novo Marcelo, que mais ataca que defende.

E o Brasil levou o segundo e decisivo gol justamente no buraco que Marcelo deixou porque estava no ataque, não conseguiu voltar a tempo nem bloquear o chute do atacante belga. Apesar disso, Tite manteve Marcelo até o fim do jogo. Afinal, toda a imprensa dizia que era o melhor lateral esquerdo do mundo.

Fernandinho não acertou uma bola – a não ser a do gol contra as próprias redes que resvalou em seu ombro e enganou Alisson, aquele que não gosta de abandonar a linha do gol nem quando a bola sobrevoa perigosamente a sua pequena área - e mesmo assim também foi mantido até o final. Tite pode se justificar dizendo que não tinha quem colocar no lugar. Não tinha porque convocou mal.

Tite estava muito nervoso à beira do gramado no jogo com a Bélgica. Seu nervosismo contaminou os jogadores. Atacantes perderam gols que jamais perderiam, cara a cara com o goleiro, numa sucessão de lances de pastelão, se estivessem equilibrados e tranquilos.

A Copa do Mundo é a metáfora de uma guerra mundial. Os gramados são campos de batalha. A bola e as chuteiras são armas que podem ferir e até matar jogadores. Partidas de Copa são jogos de vida ou morte.

Quando os franceses foram derrotados na Batalha de Waterloo, que fica na Bélgica, ninguém culpou os soldados sobreviventes, que seguiram suas vidas, mas Napoleão, que os comandou, e que foi deportado pelos vencedores (ingleses e alemães) para a Ilha de Santa Helena, onde terminou seus dias.

A culpa pela derrota do Brasil na Batalha de Moscou não é dos jogadores, é de Tite.

Os torcedores e a imprensa só não estão pedindo a sua cabeça porque ele tem uma ótima assessoria, transmite credibilidade, fala bem, passa sinceridade, sabedoria, tem um grande carisma, sempre se sai bem nas entrevistas e está blindado pela Globo.

E sobretudo porque não tem ninguém melhor do que ele no país.