*Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão" e "O domador de sonhos"
Não satisfeita em autocensurar os conteúdos que seus jornalistas contratados ou colaboradores produzem diariamente para seus jornais, revistas, sites, rádios e emissoras de TV espalhados pela web e por todo o Brasil, a Globo decidiu ressuscitar o AI-5 e proibi-los de emitir opiniões nas redes sociais por meio de um decreto que baixou unilateralmente e que sujeita a demissão aquele que o desobedecer.
Como sabemos, mas a Globo prefere ignorar, a liberdade de expressão é garantida pelo artigo 5º. da constituição federal, cláusula pétrea que não pode ser revogada, mas que ela revogou internamente, implantando a censura em tempos democráticos.
O objetivo é claro: barrar opiniões diferentes das expressas em sua linha editorial, impondo voz única – a de seus donos - sob o pretexto de preservar a "isenção" e a "reputação" dos jornalistas e da empresa.
Não sei como pode falar em preservar alguma reputação a organização que desde 1989 fustiga Luiz Inácio Lula da Silva de forma desproporcional em relação a outros políticos brasileiros e que, desde a redemocratização, tenta impor ao país diretrizes políticas e econômicas, como se fosse um partido político e não uma empresa jornalística, ao mesmo tempo em que mantém monopólio da informação ao arrepio da lei.
A decisão não chega a ser surpreendente, já que a Globo apoiou e defendeu o AI-5 da ditadura militar, decretado a 13 de dezembro de 1968 e que determinou a implantação da censura jornalística e artística no Brasil, além de fechar os partidos e cassar adversários do regime.
Num dos pontos mais humilhantes do Ato Institucional da Globo, o texto sugere que, na dúvida entre publicar ou não alguma coisa nas redes sociais, o funcionário consulte a chefia, como se ele não tivesse condições de tomar decisões por si mesmo.
E determina que as chefias levem os casos de desobediência à direção da organização, para julgamento sumário.
As precauções não se restringem ao campo político. Também há uma recomendação explícita para os funcionários não apontarem falhas em produtos ou criticarem empresas, mesmo que tenham sido prejudicados por elas.
O veto é fácil de entender. Qualquer produto ou empresa já foi, é ou poderá ser anunciante de alguma empresa da Globo.
Como todo ato de censura, o decreto revela fraquezas de quem o impõe. O medo que a Globo tem das redes sociais parece ser maior do que supõe a vã filosofia, como vimos nos casos William Waack e Chico Pinheiro.
Se elas fossem inócuas não teriam de ser tão estritamente vigiadas.
A outra constatação é que a Globo não sabe conviver com o contraditório, prefere censurar a debater e todos os seus editoriais em defesa da democracia não valem um tostão furado.
Se vier outro AI-5, não há dúvida, a Globo vai apoiar de novo.