Filipe Araujo

Nada de importante que tenha ocorrido este ano no Brasil pode ser explicado sem referência ao Lula. De esperança para muitos, de pânico para alguns.

Nunca o destino de um país esteve tão intrinsecamente ligado ao destino de uma pessoa, como os destinos do Brasil e do Lula.

O ano começou em meio às Caravanas do Lula. Começadas em agosto com a Caravana do Nordeste, tiveram continuidade na Caravana de Minas, depois na Caravana do Espírito Santo e do Rio de Janeiro, para concluir, vitoriosamente, com a Caravana do Sul que terminou com a concentração em Curitiba, com participação de muitos milhares de pessoas. (Bolsonazi disse que faria concentração maior no dia seguinte, no mesmo lugar, mas não conseguiu fazer nem um simulacro de reunião, porque não apareceram nem 10 pessoas).

Era um tempo de retomada da esperança de que o Brasil poderia voltar a sorrir, a ter alegria, a ser feliz. Lula aparecia já como o candidato favorito para ganhar as eleições no primeiro turno e voltar a ser presidente do Brasil.

Nem bem terminou a Caravana do Sul, veio a decisão negativa do STF do habeas corpus e, de forma totalmente sincronizada, a decretação da prisão do Lula. Começou a segunda fase do ano, com a apresentação do Lula, começou o período de sua detenção na PF de Curitiba.

Lula seguia candidato, cada vez mais favorito para ganhar no primeiro turno. Recebia as visitas e a solidariedade, cada vez maior, de gente do Brasil e de todas as partes do mundo. A mídia ficava pendente da transmissão das declarações do Lula aos que o visitavam.

Quando foi proibido, uma vez mais de maneira arbitrária, de ser candidato, Lula lançou Haddad como seu candidato, o que o substituiria para realizar o mesmo programa. Haddad começou a campanha, empunhando um livro numa mão e uma carteira de trabalho na outra, como expressão simbólica do programa de prioridade das questões sociais. Haddad foi crescendo nas pesquisas, conforme circulava por todo o país e os apoios ao Lula iam sendo transferidos para ele.

No momento em que Haddad superava o Bolsonazi nas pesquisa de segundo turno, veio à tona a ofensiva da extrema direita, combinando "fakenews" com centenas de milhares de robôs, financiado por grandes empresários, que mudaram o quadro eleitoral definitivamente. Em poucos dias reverteram a situação, projetando, pela primeira vez, a terrível ideia de que um tipo como aquele poderia ser presidente do Brasil.

E por que a elite se entregaria nas mãos de um cara tão tosco, tão imprevisível, tão extremista de direita, que dá vergonha em qualquer lugar do mundo?

Impossível entender o fenômeno Bolsonazi sem referi-lo a Lula. Ao retorno do Lula ao governo ou de quem representasse o Lula, com seu programa e com sua presença determinante, de onde quer que fosse, num novo governo.

Então, nem candidatura do Lula, nem sequer entrevistas do Lula. Sua presença, por ser tão forte na cabeça do povo, tinha que ser proibida, impedida, bloqueada. Combinando a continuidade da mais brutal campanha de acusações sem fundamento a alguém no Brasil, com a proibição de que sua imagem circulasse pelo país, com a campanha sórdida, de mentiras, calúnias, comportamentos antidemocráticos, da parte do candidato que sobrou para a direita tratar de manter o governo. Ter apelado para alguém tão desclassificado e incompetente como o Temer, se compreende pelo mesmo mecanismo: qualquer um, menos o Lula, meno o PT, menos quem representasse o Lula.

O ano termina e a presença do Lula continua a ser gravitante. O anúncio da possibilidade de ele ser libertado gerou de novo pânico nas elites e nos seus representantes. Um milico – chefe do Exército já havia dito que a liberdade do Lula deveria o processo "fora de controle"(deles, quer dizer). Lula Livre gera um pânico, a tal ponto que a primeira reunião do Bolsonazi, presidente eleito, com seu ministério, foi desfeita, quando chegou a notícia da possível liberdade do Lula, pela consciência de que aquela farsa só seria possível com o Lula excluído da vida política, preso, sem liberdade e sem palavra.

Bolsonazi, Moro e toda a direita brasileira seguem morrendo de medo, de pânico, do Lula. Sabem que ele continua sendo o único grande líder nacional com apoio popular e com legitimidade para governo o Brasil e tirá-lo da crise.

Lula termina o ano de 2018 e começa o ano de 2019 como a grande presença para todos – de esperança para o povo, de pânico para as elites. Aquele que dá sentido às coisas, de forma positiva para tantos, negativa para outros. Por isso Lula é o personagem do ano no Brasil.