*Ricardo Kotscho é jornalista e integra o Jornalistas pela Democracia
Um incêndio nos alojamentos do Centro de Treinamento do Flamengo no Ninho do Urubu, onde ficam os jogadores das equipes de base, flagrou nesta sexta-feira mais um dramático exemplo da desigualdade social no país, que aumenta a cada dia.
Ao mesmo tempo em que o Flamengo rico, o maior clube do país, torra R$ 85 milhões na contratação de grandes craques, estes meninos estavam alojados em conteineres improvisados nos fundos do Ninho do Urubu, sem laudo de segurança aprovado pelo Corpo de Bombeiros.
Às cinco da manhã, quando os meninos ainda estavam dormindo, um ar-condicionado explodiu e provocou um curto circuito nos demais aparelhos, e o fogo se espalhou rapidamente.
Dez jogadores da base e funcionários morreram carbonizados. Três ficaram feridos. A maioria deles veio de outros estados e de subúrbios do Rio.
Eram meninos humildes que sonhavam em jogar no Flamengo e dar uma vida melhor às suas famílias.
No mesmo terreno, o Flamengo gastou muitos milhões de reais durante anos para montar o mais sofisticado centro de treinamento dos clubes brasileiros para seus jogadores da equipe principal.
Este alojamento improvisado das equipes de base seria desativado a partir da próxima semana, com a transferência dos meninos do sub-15 e do sub-17 para outro prédio, mas não deu tempo.
Este é o Brasil, ao mesmo tempo rico e pobre, orgulhoso e miserável, acima de tudo injusto com os mais humildes.
Foi mais um episódio cruel das tragédias que se sucedem no país, sempre penalizando os mais pobres, por desleixo e ganância do andar de cima, que está no comando, como sabemos.
Agora, virão as perícias e as rigorosas investigações para apontar os responsáveis por mais esta desgraça, que certamente punirá algum eletricista ou outro funcionário subalterno, mas nunca chegará aos donos da bola, como em Mariana e Brumadinho.
Desta forma, estamos destruindo não só a vida presente, mas comprometendo o futuro do país, por desídia, pouco caso, irresponsabilidade e onipotência dos mais fortes.
Daqui a pouco os comentaristas polianas vão dizer que mais esta tragédia sirva de lição para nunca mais se repetir, como falaram em Mariana, três anos antes da barragem romper em Brumadinho, matando mais de 300 pessoas, tudo exatamente igual.
O Brasil não precisa mais de lições, já conhecemos todas, mas de punições exemplares aos verdadeiros responsáveis, que não dormem em conteineres sem nenhuma segurança .
Vida _ e morte _ que segue. Até quando?