Manvailer e Tatiane

O marido da advogada Tatiane Spitzner é acusado de tê-la atirado do quarto andar.

Há imagens do circuito interno do elevador em que Luis Felipe Manvailer agride a mulher. Imagens que comprovam que as agressões começaram no carro e terminaram com a advogada morta.

Imagens – assustadoras, devo avisar – de Tatiane fugindo do homem que seria ao mesmo tempo seu marido e seu assassino, sem sucesso.

Os vizinhos ouviram os gritos, o barulho ensurdecedor da violência, mas ninguém quebrou o silêncio. Ninguém interveio.

Ninguém evitou que uma mulher fosse enforcada e atirada da sacada. Problema de família, em briga de marido e mulher não se mete a colher, eles dizem, “e vai saber o que ela fez?”

Um homem que se apresenta à sociedade dos ditos normais como conservador recebe um respeito tão grande por parte de seus pares que ouve-se uma mulher pedindo socorro no apartamento do casal e ninguém faz nada, porque ele sabe o que que está fazendo, ele é um homem, e mais do que isso, um cidadão de bem.

Nossa palavra não é suficiente, as histórias de nossa morte captadas segundo após segundo por câmeras de segurança não são suficientes, porque há algo muito mais forte do que nós: a ideia de que temos um lugar socialmente dependente do homem na família tradicional.

Luis Felipe Manvailer era um eleitor de Bolsonaro e curtia o MBL pelas razões mais hipócritas possíveis: os valores da família, a manutenção da representação perfeita da normalidade estéril da moral conservadora.

Cuidava da saúde. Na capa do Facebook, fotos da relação perfeita com a mulher viria a matar. “Te amo!”

Um homem normal, acima de qualquer suspeita, como a grande maioria dos feminicidas. Feminicidas não são monstros, não são loucos, não são demônios.

Homens que compactuam de uma moral retrógrada que ainda nos inferioriza, ainda nos vê como uma “fraquejada”.

Luis Felipe Manvailer, um homem de família, muito digno e adepto dos bons costumes, como o Doutor Bumbum, que fazia cirurgias plásticas em um quarto de hotel e acabou matando uma mulher explorando sua obsessão pela bunda perfeita, mas é um homem de bem.

Como o youtuber que contou numa boa como estuprou a namorada enquanto ela dormia, mas quer preservar os valores da família e está farto de tanta patifaria.

Para o bolsominion- o bolsominion de mais de 50, uma espécie estranha de bolsominion – que comentou em uma notícia de pedofilia “com doze anos já aguenta bem”, mas paga seus impostos.

É impossível não enxergar o que esses homens têm em comum além de escolherem o pior candidato possível: pra eles, o tempo parou e mulheres ainda são bruxas que devem ser queimadas na fogueira ou atiradas da sacada.

O modelo rígido de conservadorismo proposto pelo modo Bolsonaro de ver o mundo, comum nesses tantos feminicidas e violentadores, não pode resultar em outra coisa que não o caos, e, no caos, as mulheres – socialmente minorizadas – são as primeiras a morrerem.

Tatiane Spitzner, presente!