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Ela é popular nas redes sociais – tem 244 mil seguidores no Twitter, 78,7 mil no Instagram e 45 mil no Facebook – mas pouco conhecida no Brasil. Marina é colorista e restauradora digital, profissão que abraçou há cinco anos, a partir de um hobby. As fotos históricas que recuperou estão nos livros que escreveu com Dan Jones – os títulos ocupam atualmente o primeiro e o segundo lugares na lista da Amazon dos importados mais vendidos de história da fotografia.
Marina é autodidata e já recuperou 2 mil fotografias, entre públicas e privadas. Um dos mais notáveis trabalhos que ela faz é em parceria com o Memorial e Museu de Auschwitz-Birkenau. No projeto Faces of Auschwitz, ela conta a história das vítimas do pior campo de concentração nazista por meio da recuperação de suas fotografias. Essa iniciativa vai se desdobrar num documentário homônimo, rodado há dois anos na Polônia.
Há um ano, ela teve a resposta para uma pergunta que se fazia desde a infância. Por que era diferente? Marina recebeu o diagnóstico de autismo, o que mudou sua vida. Engajou-se na luta pela inclusão, atuando no recém-inaugurado Instituto Lagarta Vira Pupa, de apoio a pessoas com deficiência e suas famílias.
“Eu trabalho da hora em que acordo até a hora em que vou dormir. É um ritmo muito puxado e, às vezes, realmente não aguento. Meu diagnóstico me deu uma consciência maior dos meus limites”, diz ela na entrevista a seguir ao Estado de Minas.
Registro da Segunda Guerra Mundial, travada entre 1939 e 1945
(foto: Imagem de domínio público )
Por que seu trabalho chegou primeiramente no exterior?
A minha carreira inteira aconteceu de forma inesperada. Eu não planejei nada. Na verdade, jamais imaginei que conseguiria desenvolver uma carreira a partir do que então era um hobby recém-adquirido. Da mesma forma se deu a disseminação do meu trabalho. Comecei a compartilhar minhas fotos nas redes sociais sem qualquer pretensão. Na época, tinha apenas uns 10 seguidores no Twitter. De alguma forma, contas grandes e importantes – todas do exterior – começaram a encontrar essas imagens e compartilhar, e aí virou uma bola de neve. Desde o primeiro momento, o trabalho se espalhou de forma absolutamente natural e, por acaso, ganhou muita força no exterior.
Como você descobriu o processo de recuperar e colorir fotos antigas?
Sempre gostei de usar o Photoshop no meu tempo livre, desde criança. Gostava de passar horas assistindo aos tutoriais diversos no YouTube e tentando reproduzir todos os tipos possíveis de efeitos e criações dentro do programa. Então, quando encontrei uma coleção de fotos colorizadas da Segunda Guerra Mundial em um fórum de história, fiquei apaixonada pela possibilidade de fazer o mesmo. Já tinha uma noção das ferramentas do programa de edição, mas não sabia por onde começar. Foi na base da tentativa e erro. E muita, muita prática. Virava noites estudando e tentando entender o que me permitiria alcançar resultados cada vez mais realistas. Aos poucos, consegui desenvolver minhas próprias técnicas. Hoje, tenho a consciência de que foi muito mais do que apenas um interesse e curiosidade – esse hobby se tornou minha obsessão.
Como se dá o processo de colorir uma foto digitalmente?
Retratos simples podem ser feitos em uma hora; já fotos mais complexas e detalhadas podem levar dias, semanas, meses. O processo é inteiramente digital e manual, como um livro de colorir gigante. Cada detalhe de uma foto é colorido a mão. Não é tão fácil quanto algumas pessoas acham que é. Por trás de cada foto existe um trabalho de mapeamento, através do qual, com a ajuda de historiadores e especialistas, consigo identificar as cores originais dos objetos mais importantes, cruzando referências visuais e escritas (usando como fonte livros, documentos, jornais da época).
A colorista e restauradora de imagens mineira Marina Amaral
(foto: Fabiano Aguiar/Divulgação)
Por que seus livros nunca foram publicados no Brasil?
Por pura falta de interesse por parte das editoras. São livros ilustrados, com mais de 440 páginas, coloridos, então imagino que não sejam baratos de produzir. Mas fico muito triste e frustrada porque são best-sellers internacionais, lançados já em mais de 13 traduções. Existe um interesse gigantesco de editoras em toda parte, menos aqui. Os brasileiros estão comprando a edição do Reino Unido, em inglês. É uma pena.
A coleção de fotos do projeto Faces of Auschwitz é impressionante. Como se deu sua parceria com o Memorial de Auschwitz?
Propus o projeto em 2018 e venho trabalhando nele desde então. Senti a necessidade de usar o meu trabalho e alcance para falar de temas que julgo serem importantes não só para mim, como para a humanidade como um todo. O Holocausto é um desses assuntos. Desconhecer como tudo aconteceu e todas as consequências é muito perigoso. Até agora já resgatamos 22 fotos e histórias. Estamos em um período de pausa das nossas atividades digitais porque temos depositado todas as nossas forças na finalização do documentário que gravamos lá em Auschwitz, no final de 2018. Nossa vontade é lançá-lo ainda neste ano, ou no máximo no ano que vem.
A cientista francesa de origem polonesa Marie Curie (1867-1934)
(foto: Imagem de domínio público )
A história em cores é diferente da história em preto e branco?
A história em cores é a história próxima da nossa realidade. É desfazer a noção de que todos esses nomes que ouvimos na escola são apenas personagens de livros. Eram pessoas de carne e osso. Na minha concepção, as cores fazem com que a história se torne mais real, mais próxima. É como se uma barreira emocional fosse desfeita.
Como se deu a descoberta do autismo e o que ela representou para você?
Cresci sabendo que era diferente, mas não imaginava que havia uma explicação para isso. Desde os 3 anos, passei por diversos psicólogos e médicos e recebi os mais variados diagnósticos: ansiedade generalizada, depressão... Nunca autismo. Somente aos 25, quando conheci a Andréa Werner – ativista pelos direitos das pessoas com deficiência e mãe de um menino autista – foi que tudo começou a fazer sentido pela primeira vez. Ela percebeu os sinais óbvios que passaram despercebidos por todos os profissionais que me avaliaram ao longo dos anos. Desde que começamos a conversar a respeito, tive a certeza de que havia finalmente encontrado a resposta que procurava há tanto tempo. Andrea me apresentou para a doutora Raquel Del Monde, que foi quem fechou o diagnóstico. Duas mulheres maravilhosas que mudaram a minha vida. Infelizmente, a ignorância das pessoas e o despreparo dos profissionais ainda são muito grandes. São milhões de mulheres subdiagnosticadas no mundo inteiro.
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Ela é popular nas redes sociais – tem 244 mil seguidores no Twitter, 78,7 mil no Instagram e 45 mil no Facebook – mas pouco conhecida no Brasil. Marina é colorista e restauradora digital, profissão que abraçou há cinco anos, a partir de um hobby. As fotos históricas que recuperou estão nos livros que escreveu com Dan Jones – os títulos ocupam atualmente o primeiro e o segundo lugares na lista da Amazon dos importados mais vendidos de história da fotografia.
Marina é autodidata e já recuperou 2 mil fotografias, entre públicas e privadas. Um dos mais notáveis trabalhos que ela faz é em parceria com o Memorial e Museu de Auschwitz-Birkenau. No projeto Faces of Auschwitz, ela conta a história das vítimas do pior campo de concentração nazista por meio da recuperação de suas fotografias. Essa iniciativa vai se desdobrar num documentário homônimo, rodado há dois anos na Polônia.
Há um ano, ela teve a resposta para uma pergunta que se fazia desde a infância. Por que era diferente? Marina recebeu o diagnóstico de autismo, o que mudou sua vida. Engajou-se na luta pela inclusão, atuando no recém-inaugurado Instituto Lagarta Vira Pupa, de apoio a pessoas com deficiência e suas famílias.
“Eu trabalho da hora em que acordo até a hora em que vou dormir. É um ritmo muito puxado e, às vezes, realmente não aguento. Meu diagnóstico me deu uma consciência maior dos meus limites”, diz ela na entrevista a seguir ao Estado de Minas.
Registro da Segunda Guerra Mundial, travada entre 1939 e 1945
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Por que seu trabalho chegou primeiramente no exterior?
A minha carreira inteira aconteceu de forma inesperada. Eu não planejei nada. Na verdade, jamais imaginei que conseguiria desenvolver uma carreira a partir do que então era um hobby recém-adquirido. Da mesma forma se deu a disseminação do meu trabalho. Comecei a compartilhar minhas fotos nas redes sociais sem qualquer pretensão. Na época, tinha apenas uns 10 seguidores no Twitter. De alguma forma, contas grandes e importantes – todas do exterior – começaram a encontrar essas imagens e compartilhar, e aí virou uma bola de neve. Desde o primeiro momento, o trabalho se espalhou de forma absolutamente natural e, por acaso, ganhou muita força no exterior.
Como você descobriu o processo de recuperar e colorir fotos antigas?
Sempre gostei de usar o Photoshop no meu tempo livre, desde criança. Gostava de passar horas assistindo aos tutoriais diversos no YouTube e tentando reproduzir todos os tipos possíveis de efeitos e criações dentro do programa. Então, quando encontrei uma coleção de fotos colorizadas da Segunda Guerra Mundial em um fórum de história, fiquei apaixonada pela possibilidade de fazer o mesmo. Já tinha uma noção das ferramentas do programa de edição, mas não sabia por onde começar. Foi na base da tentativa e erro. E muita, muita prática. Virava noites estudando e tentando entender o que me permitiria alcançar resultados cada vez mais realistas. Aos poucos, consegui desenvolver minhas próprias técnicas. Hoje, tenho a consciência de que foi muito mais do que apenas um interesse e curiosidade – esse hobby se tornou minha obsessão.
Como se dá o processo de colorir uma foto digitalmente?
Retratos simples podem ser feitos em uma hora; já fotos mais complexas e detalhadas podem levar dias, semanas, meses. O processo é inteiramente digital e manual, como um livro de colorir gigante. Cada detalhe de uma foto é colorido a mão. Não é tão fácil quanto algumas pessoas acham que é. Por trás de cada foto existe um trabalho de mapeamento, através do qual, com a ajuda de historiadores e especialistas, consigo identificar as cores originais dos objetos mais importantes, cruzando referências visuais e escritas (usando como fonte livros, documentos, jornais da época).
A colorista e restauradora de imagens mineira Marina Amaral
(foto: Fabiano Aguiar/Divulgação)
Por que seus livros nunca foram publicados no Brasil?
Por pura falta de interesse por parte das editoras. São livros ilustrados, com mais de 440 páginas, coloridos, então imagino que não sejam baratos de produzir. Mas fico muito triste e frustrada porque são best-sellers internacionais, lançados já em mais de 13 traduções. Existe um interesse gigantesco de editoras em toda parte, menos aqui. Os brasileiros estão comprando a edição do Reino Unido, em inglês. É uma pena.
A coleção de fotos do projeto Faces of Auschwitz é impressionante. Como se deu sua parceria com o Memorial de Auschwitz?
Propus o projeto em 2018 e venho trabalhando nele desde então. Senti a necessidade de usar o meu trabalho e alcance para falar de temas que julgo serem importantes não só para mim, como para a humanidade como um todo. O Holocausto é um desses assuntos. Desconhecer como tudo aconteceu e todas as consequências é muito perigoso. Até agora já resgatamos 22 fotos e histórias. Estamos em um período de pausa das nossas atividades digitais porque temos depositado todas as nossas forças na finalização do documentário que gravamos lá em Auschwitz, no final de 2018. Nossa vontade é lançá-lo ainda neste ano, ou no máximo no ano que vem.
A cientista francesa de origem polonesa Marie Curie (1867-1934)
(foto: Imagem de domínio público )
A história em cores é diferente da história em preto e branco?
A história em cores é a história próxima da nossa realidade. É desfazer a noção de que todos esses nomes que ouvimos na escola são apenas personagens de livros. Eram pessoas de carne e osso. Na minha concepção, as cores fazem com que a história se torne mais real, mais próxima. É como se uma barreira emocional fosse desfeita.
Como se deu a descoberta do autismo e o que ela representou para você?
Cresci sabendo que era diferente, mas não imaginava que havia uma explicação para isso. Desde os 3 anos, passei por diversos psicólogos e médicos e recebi os mais variados diagnósticos: ansiedade generalizada, depressão... Nunca autismo. Somente aos 25, quando conheci a Andréa Werner – ativista pelos direitos das pessoas com deficiência e mãe de um menino autista – foi que tudo começou a fazer sentido pela primeira vez. Ela percebeu os sinais óbvios que passaram despercebidos por todos os profissionais que me avaliaram ao longo dos anos. Desde que começamos a conversar a respeito, tive a certeza de que havia finalmente encontrado a resposta que procurava há tanto tempo. Andrea me apresentou para a doutora Raquel Del Monde, que foi quem fechou o diagnóstico. Duas mulheres maravilhosas que mudaram a minha vida. Infelizmente, a ignorância das pessoas e o despreparo dos profissionais ainda são muito grandes. São milhões de mulheres subdiagnosticadas no mundo inteiro.